Após ocupar um pequeno pedaço do território da Rússia por sete meses, forças ucranianas parecem se retirar da região. Moscou relata avanços, confirmados por analistas militares de ambos os lados do conflito.As forças da Ucrânia parecem prestes a perder suas posições duramente conquistadas na região russa de Kursk. Moscou anunciou novos avanços na retomada do território nesta quarta-feira (12/03), enquanto analistas militares de ambos os lados afirmam que as forças de Kiev estariam em retirada.

Em 6 de agosto do ano passado, a Ucrânia gerou uma das maiores surpresas daguerra ao invadir a fronteira e tomar um território dentro da Rússia. A contraofensiva animou os ucranianos e deu a eles uma potencial moeda de troca em negociações de paz com Moscou.

Mas, depois de resistir por mais de sete meses em uma área cada vez menor, os ucranianos viram sua situação em Kursk piorar drasticamente na semana passada.

O Ministério da Defesa russo anunciou nesta quarta-feira a captura de mais cinco vilarejos na região, com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmando que “a dinâmica é boa” em Kursk.

Um vídeo publicado por blogueiros russos e pela imprensa estatal mostrava soldados com uma bandeira russa em uma praça no centro de Sudzha, uma cidade perto da fronteira com a Ucrânia, por onde passa uma rodovia utilizada pelos ucranianos como rota de abastecimento de suas tropas. A autenticidade do vídeo foi confirmada pela agência de notícias Reuters.

O chefe das Forças Armadas ucranianas negou nesta semana que suas tropas estivessem cercadas em Kursk, mas disse que buscavam assumir melhores posições defensivas.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse nesta quarta-feira que a Rússia aumentou a pressão sobre as tropas ucranianas em Kursk e assegurou que Kiev estava fazendo “o máximo possível” para proteger seus soldados.

“Os russos estão claramente tentando colocar pressão máxima sobre nossas tropas. Nosso comando militar está fazendo o que tem que ser feito”, disse Zelenski em coletiva de imprensa em Kiev. “Estamos preservando as vidas de nossos soldados o máximo possível.”

Segundo o blogueiro militar ucraniano Skadovskyi Defender, as tropas ucranianas estão deixando Kursk. “Não haverá nenhum soldado ucraniano lá até sexta-feira”, postou ele em seu canal no Telegram.

O mesmo canal, porém, relatou que a Ucrânia continuava a realizar ataques pesados em Sudzha. O governador russo da região disse que quatro funcionários civis de uma fábrica foram mortos nesta quarta-feira.

Já o analista russo independente Ruslan Leviev disse que a incursão ucraniana estaria chegando ao fim. “Talvez essa história acabe hoje; talvez eles tentem manter os vilarejos da fronteira por mais alguns dias. Mas, no geral, a história da cabeça-de-ponte [território do lado inimigo, no jargão militar] de Kursk está chegando ao fim, e as tropas ucranianas estão saindo”, afirmou.

Rússia avalia proposta de cessar-fogo

Os Estados Unidos e a Ucrânia anunciaram nesta terça-feira a disposição para um cessar-fogo de 30 dias – se a Rússia também concordar – e a retomada imediata da ajuda militar e de inteligência americana a Kiev.

O anúncio conjunto foi feito após uma rodada de negociações na cidade de Jedá, na Arábia Saudita, que não contou com a presença dos presidentes. Zelenski esteve antes em Jedá para conversas preliminares.

O Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz, prometeram fornecer a Moscou todas as informações sobre as negociações entre os EUA e a Ucrânia. O Kremlin disse que precisava ser informado pelo lado americano antes de comentar se os termos do cessar-fogo eram aceitáveis.

Contatos entre Moscou e Washington estão planejados para os próximos dias. O presidente dos EUA, Donald Trump, declarou que também quer conversar em breve por telefone com seu homólogo russo, Vladimir Putin, possivelmente ainda nesta semana.

Peskov disse que a conversa poderia ser organizada em curto prazo. No entanto, ainda não há clareza sobre o local e o horário de uma possível reunião entre os dois chefes de Estado.

rc/ra (Reuters, AFP, DPA)