Nova ofensiva de drones russos castiga infraestrutura energética da Ucrânia, forçando a imposição de blecautes e levando milhões de habitantes a enfrentar temperaturas abaixo de zero sem fornecimento de eletricidade.Milhões de ucranianos passarão a Noite de Natal sem eletricidade e sob temperaturas abaixo de zero, após mais um ataque massivo lançado pela Rússia contra a infraestrutura energética da Ucrânia.

“Se não houver eletricidade em casa, faremos a ceia de Natal à luz de velas”, disse um ucraniano que caminhava nesta quarta-feira (24/12) pelo centro de Lviv, no oeste do país, falando alto para ser ouvido em meio ao zumbido dos geradores portáteis que tomam as ruas.

Após os ataques russos de terça-feira (23/12), nos quais foram utilizados 650 drones de longo alcance e 38 mísseis, três usinas nucleares ucranianas foram obrigadas a reduzir a produção de eletricidade por conta dos danos na rede, o que também limitou a capacidade de transmitir a energia produzida e importada para diferentes pontos do país.

Em consequência, Lviv foi uma das cidades que precisaram introduzir cortes de luz drásticos, com os residentes forçados a passar até dez horas por dia sem energia e com interrupções planejadas introduzidas de forma alternada por distritos, visando dividir a eletricidade disponível equitativamente entre as casas.

Apagões

Esta circunstância não interrompeu os preparativos para uma das maiores festividades no país, predominantemente cristão, e muitos moradores de Lviv se esforçavam para elaborar doces tradicionais e outros pratos para a ceia de Natal, iluminando-se com lanternas a pilha.

Centenas de visitantes compareceram para presenciar a instalação do símbolo tradicional ucraniano do Natal, o ‘didukh’, na Praça dos Anjos, junto à Igreja da Guarnição, onde diariamente são realizadas as despedidas dos soldados mortos na guerra.

Vários coros, aos quais se juntaram espectadores locais e vindos de outras cidades, cantaram canções de Natal ao lado do ‘didukh’, um feixe de trigo decorado com quatro metros de altura.

“Com as crianças, teremos hoje uma ceia de Natal com 12 pratos tradicionais”, disse Lesia Kulchitska, cantora do grupo de música folclórica Lemkovina.

“Não será tão abundante como antes, porque os tempos são difíceis para todos e gastamos muito dinheiro apoiando nosso Exército”, admitiu.

Kulchitska está muito preocupada com seu marido, Herman, que combate como voluntário desde o início da invasão russa, há quase quatro anos, mas acredita que a manutenção das tradições natalinas – apesar dos cortes de luz, da separação de entes queridos e das perdas sofridas por muitas famílias – servirá apenas para fortalecer a determinação dos ucranianos.

Os apagões e os ataques contra a rede ferroviária não dissuadiram Natalia, uma turista de 54 anos que viajou de Vinnytsia para Lviv para realizar o sonho de passar o Natal na cidade famosa por seu grande número de igrejas.

“O Natal tem a ver com a esperança de que tudo irá melhorar em breve. De que haverá paz e todas as pessoas terão saúde e alegria, e estarão com Deus”, afirmou Natalia, que planejava assistir a missas em Lviv antes de retornar à sua cidade natal, onde os cortes de luz deveriam se prolongar nesta quarta-feira pela metade do dia.

Sistema energético sob ataque

Embora o zumbido dos geradores acompanhasse o som das canções natalinas, a situação em Lviv é melhor do que a de muitas regiões próximas ao front ou à fronteira com a Rússia.

Os efeitos dos reparos de emergência levarão dias ou semanas para serem sentidos, o que implica que muitos ucranianos passarão até 16 horas por dia sem eletricidade no próximo período, segundo especialistas do setor.

Os ataques russos contra o sistema energético continuaram nesta quarta-feira, quando sofreram danos uma usina de energia em Kharkiv (nordeste), bem como a infraestrutura de gás, crucial para o aquecimento das casas em tempos de temperaturas negativas.

“O principal objetivo é acabar com a integridade do sistema energético antes do Ano Novo, dividindo-o ao longo do rio Dnieper e deixando também isoladas as regiões de Odessa, Sumy, Chernihiv e Kharkiv”, escreveu em suas redes sociais Volodimir Omelchenko, especialista em energia do Centro de Estudos Razumkov.

jps (EFE)