Parlamento Europeu decide que “hambúrguer vegano” e outras alternativas à carne têm que mudar de nome. Enquanto indústria da carne festeja, consumidores e supermercados criticam decisão.Membros do conservador Partido Popular Europeu (PPE) apresentaram uma moção ao Parlamento Europeu solicitando que termos como hambúrguer, salsicha, bife ou escalope sejam reservados apenas aos produtos de carne de verdade.

Com esta iniciativa, o PPE visa apoiar os agricultores e proteger os consumidores de confundirem produtos. O argumento é que os termos “bife de soja” ou “hambúrguer vegano” podem ser confundidos com produtos de carne.

“Um bife é feito de carne – ponto final. Usar esses termos apenas para carne de verdade garante uma rotulagem honesta, protege os agricultores e preserva as tradições culinárias da Europa”, afirma a eurodeputada francesa Céline Imart, do PPE, que apresentou a proposta.

A maioria do Parlamento Europeu concorda e votou a favor da proibição nesta quarta-feira (08/10) em Estrasburgo.

Por isso, nomes de espécies animais específicas em produtos à base de plantas também passariam a ser proibidos. Uma designação como “carne de frango de soja” deixaria de ser permitida.

A indústria da carne acolhe favoravelmente a decisão, enquanto defensores dos consumidores, grupos ambientalistas e a oposição no Parlamento Europeu a criticam.

Mesmo dentro do PPE já havia antes divergências sobre esta proposta. Muitos eurodeputados do bloco conservador alemão composto por União Democrata Cristã e União Social Cristã (CDU/CSU), que integra o PPE, votaram contra.

Peter Liese (PPE), da comissão parlamentar do Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar, votou contra a proposta e lamenta a decisão. “Não devemos enganar os consumidores. Se uma embalagem diz ‘hambúrguer vegetariano’ ou ‘salsicha vegetariana’, todos podem decidir se querem ou não comprá-la. Acredito e espero que a discussão não vá adiante.”

Outros críticos foram ainda mais explícitos. “Enquanto o mundo está em chamas, o PPE não tem nada melhor a fazer esta semana do que nos arrastar para um debate sobre salsichas e escalopes”, disse a eurodeputada do Partido Verde Anna Cavazzini à DW.

A Federação Alemã de Centrais de Defesa do Consumidor (VZBV, na sigla em alemão) também afirma que até agora não havia sinal algum de confusão, ressaltando que os consumidores são favoráveis a que produtos com sabor semelhante também possam ser denominados com referência ao produto original de proteína animal. “Termos como ‘escalope vegano’ não causam confusão, mas sim promovem orientação e contribuem para maior clareza”, disse Astrid Goltz, especialista em alimentos da entidade.

Supermercados: proibição afetará vendas

Varejistas também se opõem à proibição. Em uma carta aberta, os gigantes dos supermercados Aldi Süd e Lidl, assim como a rede de fast-food Burger King e até mesmo a produtora de salsichas Rügen Walder Mühle, entre outros, pediram ao Parlamento Europeu que rejeitasse a proposta.

Eles afirmam que os consumidores sabem muito bem distinguir entre alternativas de base vegetal e carne de verdade. Uma proibição “forçaria as empresas a usar termos desconhecidos, o que complicaria significativamente o acesso ao mercado e desaceleraria a inovação”, afirma a carta.

As empresas estimam que o potencial econômico do setor seja significativo. Segundo um estudo, 65 bilhões de euros (R$ 404 bilhões) poderiam ser gerados no futuro com alternativas à carne de origem vegetal. Isso também criaria 250 mil novos empregos. As empresas alemãs seriam, portanto, desproporcionalmente afetadas por uma proibição em toda a UE.

Favorecimento da indústria da carne?

A organização alemã Foodwatch também enfatiza que não há evidências de confusão sistemática dos consumidores com a rotulagem atual de hambúrguer vegano e similares. Os fabricantes geralmente rotulam claramente seus produtos como “veganos” ou “vegetarianos”, de acordo com a Foodwatch.

A ONG alemã suspeita que o objetivo da proposta seja aparentemente desacelerar a tendência crescente entre os consumidores europeus de se absterem ocasionalmente do consumo de carne.

“Sob o pretexto de proteção ao consumidor, a UE quer proibir termos conhecidos como “linguiça de tofu” ou “carne de seitan” – isso não é proteção ao consumidor, é lobby a serviço da indústria da carne”, disse o diretor executivo da Foodwatch, Chris Methmann.

Um estudo da Changing Markets Foundation, uma organização não governamental focada em consumo e mercados sustentáveis, mostra a agressividade da luta da indústria da carne por sua participação no mercado.

A análise demonstra uma campanha de desinformação em larga escala por parte dos produtores de carne, coincidindo com a recente publicação de um influente estudo científico sobre nutrição, saúde e limites planetários, que examina criticamente o alto consumo de carne.

Um estudo de 2020 da organização europeia de proteção ao consumidor constatou que 80% dos consumidores concordam com termos como “linguiça de soja”. É importante que o rótulo indique claramente que os produtos são de origem vegetal. Em 2024, o Tribunal Europeu de Justiça (TEJ) decidiu que isso era legal e que as regulamentações atuais para a rotulagem dos ingredientes de um produto eram suficientes em sua forma atual. A iniciativa atual pode mudar isso.

Ainda não foi decidido se a proibição entrará em vigor, mesmo após a votação no Parlamento Europeu. Os chefes de Estado e de governo têm a palavra final. “Agora cabe ao Conselho da UE e ao governo federal alemão pôr fim a esse absurdo, que confunde os consumidores, custa milhões às empresas e não ajuda os agricultores”, disse Cavazzini.