Em meio a restrições contínuas à ajuda humanitária em Gaza, bloco decide reavaliar acordo que regula comércio com Israel. Governo israelense condena “total incompreensão” dos europeus sobre a guerra.A União Europeia (UE) vai revisar os laços comerciais com Israel em meio a contínuas restrições ao fluxo de assistência humanitária na Faixa de Gaza, anunciou a chefe de política externa do bloco, Kaja Kallas, após reunião de ministros do Exterior da UE nesta terça-feira (20/05).

Kallas informou que a Comissão Europeia reavaliará o Acordo de Associação UE-Israel – um pacto de livre-comércio que regula as relações políticas e econômicas entre as duas partes.

Uma “forte maioria” dos ministros dos 27 membros concordou com a revisão, segundo a diplomata estoniana. A decisão representa a primeira resposta formal à crescente pressão por uma medida mais enfática em relação à crise humanitária em Gaza.

No começo da semana, Israel autorizou, pela primeira vez em três meses, a entrada de mantimentos básicos no território de 2 milhões de pessoas. “A situação em Gaza é catastrófica. A ajuda que Israel permitiu a entrada é, obviamente, bem-vinda, mas é uma gota no oceano. A ajuda deve fluir imediatamente, sem obstrução e em grande escala, porque é disso que precisamos”, disse ela a repórteres em Bruxelas.

Israel rechaçou as críticas de Kallas. “Rejeitamos completamente a direção tomada na declaração, que reflete uma total incompreensão da complexa realidade que Israel está enfrentando”, publicou o ministro do Exterior de Israel, Oren Marmorstein, no X.

Marmorstein afirmou ainda que o governo israelense aceitou diferentes propostas americanas de trégua, todas rejeitadas pelo grupo radical palestino Hamas. “Esta guerra foi imposta a Israel pelo Hamas, e o Hamas é o responsável por sua continuação”, reiterou.

Pressão da comunidade internacional

Desde o colapso de um acordo de cessar-fogo em março, Israel voltou a endurecer o controle à ajuda humanitária na região. Na semana passada, o país iniciou uma operação nos arredores da cidade de Rafah. Médicos em Gaza dizem que os ataques recentes mataram mais de 500 pessoas nos últimos oito dias.

A ofensiva deflagrou reação na Europa. Além da UE, o Reino Unido também decidiu suspender as negociações por um acordo de livre-comércio com Israel, além de ter convocado a embaixadora israelense, Tzipi Hotovely, para prestar esclarecimentos.

Em comunicado conjunto, os líderes da França, Reino Unido e Canadá condenaram os ataques recentes e descreveram as restrições humanitárias como “totalmente desproporcionais” e possivelmente violadoras do Direito Internacional Humanitário. Eles alertaram para “ações concretas adicionais” caso o acesso humanitário não fosse restabelecido — mas não chegaram a definir quais seriam essas ações.

“Estamos chegando a um ponto crítico”, disse Hugh Lovatt, pesquisador sênior de políticas do Conselho Europeu de Relações Exteriores. “A escala da destruição, o deslocamento forçado e o colapso da infraestrutura humanitária excedem os limites de qualquer autodefesa razoável.”

Nesta quarta-feira (21/05),o papa Leão 14 também exortou Israel a suspender o bloqueio à assistência humanitária. “Renovo meu apelo para que seja permitida a chegada de ajuda humanitária e posto fim às hostilidades, cujo preço agonizante está sendo pago pelas crianças, pelos idosos e pelos doentes”, declarou o pontífice americano em sua primeira audiência geral na Praça de São Pedro, no Vaticano.

am/cn (DW, AFP, Reuters, AP e Efe)