11/08/2022 - 15:38
A justiça tarda – às vezes séculos. A americana Elizabeth Johnson Jr., condenada por feitiçaria durante os julgamentos das bruxas de Salem (estado de Massachusetts) nos anos 1690, foi enfim inocentada na semana passada, graças a petições impetradas pela professora Carrie LaPierre e seus alunos da 8ª série durante anos. A retificação da sentença original veio na forma de um breve acréscimo ao Orçamento do Estado de 2023.
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Num dos mais marcantes casos de bruxaria da história, Johnson foi acusada em Salem em 1692, ao lado de mais de 200 outras mulheres e homens. Dos indivíduos condenados, 19 foram enforcados e outros quatro morreram na prisão. Johnson também deveria ter sido executada, mas acabou escapando. No entanto, durante o resto de sua vida e nos séculos seguintes, seu nome nunca foi limpo.
A situação só começou a mudar em 2019, quando Carrie LaPierre, professora de educação cívica da 8ª série da North Andover Middle School (North Andover fica a 40 minutos de Salem), descobriu sua história. Até ler um livro sobre bruxas locais do historiador Richard Hite, LaPierre declarou que não tinha ideia de como os julgamentos das bruxas de Salem repercutiram na área de North Andover. Nesse livro ela descobriu a história de Johnson. Ela envolveu seus alunos no caso, angariando um interesse para a causa de Johnson que chegou aos legisladores do estado.
Esquecimento inexplicado
Muitas outras bruxas condenadas haviam sido inocentadas, muitas delas postumamente. Mas Johnson (ou “EJJ”, como LaPierre e seus alunos a chamavam) “de alguma forma foi esquecida enquanto todas as outras bruxas condenadas foram inocentadas ao longo dos anos”, disse a professora à CNN em um e-mail.
Não há muitos detalhes disponíveis sobre a vida de Johnson. Sabe-se, porém, que sua família foi um dos principais alvos dos julgamentos das bruxas de Salem, contaminados por histeria, excessos puritanos e brigas entre famílias. A moça foi um dos 28 membros de sua família acusados de bruxaria em 1692, segundo o jornal The Boston Globe.
Um documento de 1692 digitalizado pelo Arquivo de Documentos dos Julgamentos das Bruxas de Salem da Universidade da Virgínia (EUA) descreve detalhes da confissão de Johnson aos juízes. Ela declarou que outra mulher, Martha Carrier, “a persuadiu a ser uma bruxa” e que Carrier lhe disse que “deveria ser salva se ela fosse uma bruxa”. Ainda segundo Johnson, o diabo apareceu para ela “como dois gatos pretos”. Ela denunciou várias outras pessoas da cidade que estariam envolvidas em feitiçaria e mostrou os nós dos dedos, pelos quais outras “bruxas” a teriam “sugado”.
Projeto envolvente
Os “crimes” renderam a Johnson, então com 22 anos, a condenação à morte. No entanto, o governador na época, Charlie Parker (cuja esposa também fora acusada de bruxaria), suspendeu a execução da sentença. Em 1711, funcionários do estado, ao perceberem que tinham poucas evidências para condenar e executar ou prender pessoas por bruxaria, livraram das acusações 22 daquelas que haviam sido condenadas ou até enforcadas. O nome de Johnson, porém, foi o único a ficar de fora da relação. No ano seguinte, ela solicitou ser incluída na lista, que previa indenização às famílias dos acusados. Mas, por algum motivo, não teve o pedido atendido.
Depois de se inteirar do caso, a professora LaPierre concluiu que assumir o caso de uma “bruxa” morta há muito tempo e limpar seu nome poderia ser um projeto envolvente para seus alunos e uma aplicação de civismo na prática. Seus alunos fizeram então em 2019 uma petição à legislatura de Massachusetts com a esperança de que um parlamentar apresentasse um projeto de lei para limpar seu nome.
Depois de três anos, enfim a senadora estadual Diana DiZoglio patrocinou uma emenda ao orçamento de Massachusetts este ano para adicionar o nome de Johnson a uma resolução de 1957 que livrou das acusações outras pessoas condenadas por feitiçaria. Com isso, as injustiças cometidas em Salem vão se tornar enfim simplesmente mais uma página infeliz da história.