Uma equipe internacional de pesquisadores identificou a primeira idade abrangente para a última ocorrência conhecida das primeiras espécies de hominídeos Homo erectus. Os resultados de seu estudo foram publicados na revista “Nature”.

Entre 1931 e 1933, os geólogos holandeses Oppenoorth e ter Haar descobriram os restos de 12 calotas cranianas do Homo erectus e dois ossos da perna nas margens do rio Ngandong, na região central de Java (Indonésia). Esses fósseis são a forma mais avançada dessa espécie de hominídeo e representam uma importante mudança evolutiva.

Tentativas anteriores de datar esses fósseis resultaram em números bem díspares: os ossos ou eram considerados jovens (entre 53 mil e 27 mil anos), ou bem mais antigos (entre 143 mil e 500 mil anos). Tais estudos tiveram problemas com a verdadeira proveniência do material, a falta de associação entre os fósseis e o material sendo datado e a lixiviação de urânio dos fósseis, criando incertezas.

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“Após muitas tentativas não convincentes de datar o sítio ao longo dos anos, sabíamos que precisávamos tentar uma abordagem diferente”, disse Kira Westaway, pesquisadora do Departamento de Ciências da Terra e do Ambiente da Universidade Macquarie (Austrália) e principal autora do estudo. “Estudos anteriores se fixaram nas evidências em si. Em vez disso, vimos os fósseis como uma peça de um quebra-cabeça muito maior e tentamos entender como eles se encaixavam mais amplamente no vale e na região.”

Abordagem regional

Westaway e colegas aplicaram uma abordagem regional para datar o sítio de Ngandong e interpretaram as evidências no cenário mais amplo de Java central.

O local está em um depósito de sedimentos de rio que representa um degrau em uma “escada” dos chamados terraços de várzea. A equipe levou em consideração como o sistema do rio foi criado, como os terraços foram formados e como os fósseis foram depositados.

Os cientistas aplicaram uma série de técnicas de datação nos três contextos: estalagmites em cavernas, sedimentos no terraço do rio ao redor dos fósseis do Homo erectus e nos dentes de mamíferos associados encontrados no leito de ossos.

O resultado foram 52 novas idades, indicando que o depósito do rio e os fósseis foram depositados entre 117 mil e 108 mil anos atrás. Essa faixa etária permite que o site de Ngandong seja inserido em uma estrutura para a evolução humana no sudeste da Ásia.

O Homo erectus de Ngandong existiu na mesma época que o Homo floresiensis na Indonésia e o recém-descoberto Homo luzonensis nas Filipinas, ambos com características semelhantes às do Homo erectus. Nessa época, o Homo erectus poderia ter encontrado outras espécies humanas, como os denisovanos.

Sobreposição

“As novas estimativas de idade de Ngandong indicam que o Homo erectus e os denisovanos provavelmente se sobrepõem na região, ou pelo menos se conheceram em algum momento antes de 100 mil anos atrás”, afirmou Westaway. “Isso significaria que algumas das características únicas que foram reconhecidas nos crânios dos fósseis muito recentes do Homo erectus em lugares como Ngandong podem de fato ser o resultado de uma mistura de duas populações arcaicas – Homo erectus e denisovanos.”

“Esta é a tentativa de datação mais rigorosa até agora para a última ocorrência do Homo erectus”, disse o coautor Gert van den Bergh, da Universidade de Wollongong (Austrála). “Outros estudos colocaram humanos modernos na China há 120 mil anos, então estamos cada vez mais próximos de encontrar uma sobreposição entre o Homo erectus e os humanos modernos no sudeste da Ásia.”

Segundo a datação realizada, “o Homo erectus viveu no norte da Austrália pouco antes de o Homo sapiens chegar ao continente australiano, 65 mil anos atrás”, disse Michael Westaway, da Universidade de Queensland (Austrália), coautor do estudo. “As datas que estabelecemos agora não fornecem evidências de que o Homo sapiens e o Homo erectus se sobreponham no tempo naquele local. Este é um resultado muito importante. Os paleoantropólogos argumentam há anos que o Homo erectus pode ter tido alguma contribuição genética para as populações humanas modernas que migram pela região, mas não há evidências fósseis apoiando isso.”