22/04/2025 - 10:18
Em 22 de abril de 1945, era libertado o campo de concentração próximo a Berlim. Com o desaparecimento gradual das testemunhas, memoriais permanecem importantes numa época que vê democracia e humanidade sob ameaça.Ao chegar ao campo de concentração de Sachsenhausen, em 22 de abril de 1945, as forças de resgate encontraram cerca de 3 mil prisioneiros, enfermeiros e médicos. Para parte dos detentos, a libertação pelos soldados poloneses e soviéticos terminou tragicamente: pouco mais tarde, cerca 300 morriam em consequência do cruel tratamento recebido.
A evacuação do campo ao norte de Berlim começara na véspera, quando mais de 30 mil presos foram enviados pelos nazistas nas assim chamadas “marchas da morte”. Vários milhares deles não sobreviveram a essa tortura.
Entre 1936 e 1945, pelo menos 200 mil indivíduos de 40 países foram internados em Sachsenhausen e em diversos campos menores na região. Até o fim da Segunda Guerra Mundial, dezenas de milhares sucumbiram à fome, doença, maus tratos, experimentos médicos e trabalhos forçados.
Só durante o outono de 1941, pelo menos 10 mil presos de guerra soviéticos, entre os quais numerosos judeus, foram executados, ou num “dispositivo para tiro na nuca” (Genickschussanlage, uma falsa instalação médica que possibilitava o assassinato traiçoeiro a partir de uma sala vizinha) ou em caminhões remanejados em câmaras de gás.
Enquanto unidade modelo e de treinamento nas proximidades da capital do Reich, Sachsenhausen tinha um status especial. Desde 1938 lá estava instalada a administração central de todo o sistema de campos de concentração. Entre seus líderes mais notórios, esteve o futuro comandante do campo de extermínio de Auschwitz, Rudolf Höss, executado em 1947 como criminoso de guerra.
Encontro com um sobrevivente ucraniano centenário
Entre o fim de abril e início de maio de 2025, por ocasião dos 80 anos da libertação de Sachsenhausen, seis sobreviventes retornarão ao local onde, nos últimos anos da guerra, ainda crianças ou adolescentes, ficaram internados.
Das três mulheres e três homens, cinco são da Polônia. O mais idoso é o ucraniano Mykola Urban, nascido em Kharkiv em 1924, que participará pela primeira vez de uma cerimônia memorial do gênero. Ele vem da Suíça, para onde emigrou após o início da guerra em ampla escala da Rússia contra seu país, em 24 de fevereiro de 2022.
Tendo participado da resistência na Segunda Guerra, em 1942 Urban foi deportado para Sachsenhausen. No subcampo de Falkensee, foi explorado como trabalhador forçado na fábrica da Deutsche Maschinen (Demag), na produção de tanques blindados. Pouco antes do fim da guerra, conseguiu escapar com dois compatriotas, e eles se uniram a um regimento do Exército Vermelho soviético, que em 1945 participaria da libertação de Berlim do regime nazista.
Para Urban e outros sobreviventes em idade avançada, esse retorno ao campo de concentração poderá ser o último. Esse pensamento há muito acompanha Axel Drecroll, diretor da Fundação Memoriais de Brandemburgo. Ele enfatiza que os sobreviventes “estavam frequentemente ao nosso lado, como amigos e amigas paternais e maternais”: “Para nós, o fato de que quase não há mais essas pessoas tem um impacto muito profundo.”
Cultura aproxima de vivências das vítimas do nazismo
Para abordar a história de locais como Sachsenhausen ou o campo para mulheres de Ravensbrück, já há muitos anos os memoriais lançam mão tanto de artes plásticas e música, quanto de oficinas para jovens. “A importância disso é porque, ao lado da pedagogia e dos formatos de exposição clássicos, a cultura é capaz de formar pontes, derrubar barreiras e alcançar as pessoas com coisas que já as interessam”, afirma Drecroll, com base na própria experiência.
Katrin Grüber confirma isso, na qualidade de diretora da associação de patrocinadores dos memoriais e do museu adjunto, e neta de um interno de Sachsenhausen: quando, durante os eventos de sua instituição, se cantam canções compostas por presos dos campos de concentração, também os que nasceram depois se comovem, relata: “Os nazistas transformaram os presos em números, mas eles nunca deixaram de ser seres humanos. E as canções ajudam a imaginar as pessoas que os cantavam.”
O avô, Heinrich, era padre e membro da Igreja Confessional, que se opunha ao regime nacional-socialista. Devido a seu engajamento, sobretudo pelos cidadãos de fé judaica, em 1940 foi mandado para Sachsenhausen, e mais tarde para Dachau. Porém viveu até 1975: Grüber ainda o conheceu e, ao contar sua história familiar, forma um arco entre o passado e o aqui e agora.
Do avô, ela sabe que ele demonstrava solidariedade com os demais presos, mas que também a recebeu: “Ele esteve bem perto da morte, mas foi salvo por companheiros de prisão comunistas. Isso é algo que sempre pode ser trazido para o presente.”
Por isso ela conta em poder trocar experiências com outros descendentes, durante as comemorações dos 80 anos do fim de Sachsenhausen: “Esperamos que nasçam contatos para além desse dia, e que todos os anos vá haver um encontro desses.”
Exclusão e terror, ontem e hoje
Na opinião de Grüber, o valor de locais autênticos como Sachsenhausen é incalculável: “Eles transmitem saber, localizam destinos individuais. E permitem que os visitantes sejam tocados diretamente pelo local.”
Ela faz uma ponte com a guinada para a ultradireita que atravessa a Alemanha: “Para mim, uma das lições da história é que não se pode excluir certos indivíduos e transformá-los em bode expiatório. Por isso me dói o atual debate sobre os refugiados.”
Recentemente, a futura coalizão governamental da Alemanha, formada pelas conservadoras União Democrata Cristã (CDU) e Social Cristã (CSU) e o Partido Social-Democrata (SPD), concordou com a um endurecimento da política de refúgio e asilo. E já há anos a Alternativa para a Alemanha (AfD), em parte extremista de direita, agita contra os alemães de ascendência estrangeira e contra os que procuram refúgio da guerra e da miséria.
Também Axel Drecroll se preocupa com o futuro da democracia, ameaçada por todo o mundo. Isso apresenta grandes desafios também no contexto das atuais comemorações. Assim, a AfD está proibida de depositar coroas de flores no memorial de Sachsenhausen, ato que ele considera uma expressão de honra a ser vedada para os ultradireitistas.
O diretor da Fundação de Brandemburgo já olha para além das atuais comemorações, pois após o criminoso regime nazista instalou-se em Sachsenhausen o império do terror comunista. No mesmo ano da libertação, a União Soviética, saída vencedora da Segunda Guerra, o transformou num campo especial que, até sua dissolução, em 1950, abrigou 60 mil prisioneiros.
Eram sobretudo nazistas, mas também opositores do novo regime e cidadãos presos arbitrariamente. Cerca de 12 mil morreram de fome e doenças. Em setembro, diversos eventos memoriais e uma mostra recordarão esse capítulo menos conhecido da história de Sachsenhausen.