01/09/2024 - 14:13
Com votação encerrada, pesquisa de boca de urna projeta liderança na Turíngia da AfD, que por pouco também não saiu na frente na Saxônia. Pleito é visto como termômetro para eleição ao governo federal em 2025.Encerrada a votação neste domingo (01/09) para os parlamentos estaduais nos estados alemães da Saxônia e da Turíngia, pesquisas de boca apontam para um triunfo histórico da ultradireita no leste da Alemanha, algo que não se via desde a Segunda Guerra Mundial.
Com 30,5% das intenções de voto na Turíngia, a ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) lidera a disputa no estado, seguida pela conservadora União Democrata Cristã (CDU), com 24,5%, e a sigla populista de esquerda anti-imigração Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), com 16%.
Na Saxônia, a AfD (30%) por pouco não supera a CDU (31,5%). Já a BSW surge em terceiro lugar com 12%.
Tanto na Turíngia quanto na Saxônia, os três partidos que integram a coalizão do governo federal – sociais-democratas (SPD), verdes e liberais (FDP) – não somam juntos mais que 12,3% e 14%, respectivamente. Na Saxônia, liberais e esquerdistas não devem conquistar uma cadeira sequer por não atingirem a cláusula de barreira. Na Turíngia, liberais e verdes também devem ficar de fora do parlamento estadual.
Os dados são do Infratest dimap, e baseiam-se em pesquisas feitas nos locais de votação. Os primeiros resultados preliminares são esperados para as próximas horas, à medida em que a apuração avançar.
Partido de ultradireita pela 1ª vez na liderança desde a Segunda Guerra
Se confirmada a vitória da AfD, será a primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial que um partido de ultradireita termina uma eleição estadual alemã em primeiro lugar.
O candidato a governador da sigla é Björn Höcke, cuja alcunha de “fascista” foi chancelada por um tribunal alemão, e o diretório estadual do partido é considerado uma ameaça à ordem democrática alemã.
É improvável, porém, que a AfD assuma o governo da Turíngia.
Isso porque, na Alemanha, os governos estaduais também são parlamentaristas. Isso quer dizer que, para ter o posto de governador do estado, um partido precisa conquistar mais da metade dos assentos no parlamento estadual. Mas como nem sempre um partido sozinho elege tantos deputados, muitas vezes é necessária a formação de coalizões entre as legendas.
Ainda assim, o resultado da AfD na Turíngia não deixa de representar uma vitória para o partido de Höcke: além de ter ampliado sua margem de votos em relação a 2019 (21,7%), a sigla ganhará poder de veto sobre diversas decisões, influenciando por exemplo a escolha de juízes.
Já o partido A Esquerda, cuja dissidência deu origem à BSW, perde o controle do governo estadual, indo de 31% dos votos em 2019 para 12,5% de intenções de voto.
Para evitar uma aliança com a AfD, a CDU pode vir a formar uma insólita coalizão na Turíngia e na Saxônia com a BSW, que em dois pontos – políticas econômicas de esquerda e política externa pró-Rússia – não poderiam estar mais distantes dos conservadores da CDU.
Prévia das eleições gerais em 2025?
Embora a Saxônia e a Turíngia concentrem uma população combinada de 6,3 milhões de pessoas (menos de um décimo da população do país), as eleições locais estão sendo encaradas com atenção no restante da Alemanha.
As campanhas foram dominadas por temas nacionais como política de imigração e o apoio alemão à Ucrânia, que são vistos de forma mais crítica por parte da população do leste, onde há proporcionalmente menos estrangeiros e, segundo pesquisas, uma maior prevalência de opiniões favoráveis à Rússia.
O resultado deste domingo aumenta a pressão sobre a coalizão do governo federal, liderada por Olaf Scholz (SPD), que sofre com reprovação em todo o país apenas um ano antes da próxima eleição federal, marcada para o final de setembro de 2025.
Entre as legendas tradicionais, apenas a CDU, hoje na oposição, se saiu bem.
A votação também complica a formação de coalizões de governo estaduais e arrisca levar especialmente a Turíngia a um cenário de paralisia política, diante da fragmentação do eleitorado e da ascensão da AfD, com quem nenhum outro partido admitiu até agora formar coalizão.
Há ainda o impacto na política nacional, já que parte dos membros do governo estadual, especialmente o governador, passa a integrar o Bundesrat, a Câmara alta do Parlamento alemão, composta por representantes políticos dos 16 estados federados alemães.
Segundo a Constituição alemã, é por esse colegiado que os parlamentos regionais “participam na criação de leis e administração da União e em assuntos da União Europeia”. Quando os deputados federais do Bundestag – a Câmara baixa do Parlamento – aprovam uma nova lei, o órgão pode aprovar, vetar ou alterar os textos. Algumas leis na Alemanha só são aprovadas depois de passarem pelo Bundesrat.
ra (ots, DW)
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