31/03/2025 - 16:11
Membros da ultradireita da Hungria, Espanha, Holanda, Romênia, Itália e Bélgica manifestam solidariedade a Le Pen e acusam Justiça de conduzir julgamento “político” para barrar candidatura à Presidência.Diversos representantes da ultradireita europeia criticaram a condenação da política francesa Marine Le Pen, afastada da corrida presidencial nesta segunda-feira (31/03) após ser condenada sob acusação de peculato.
Os políticos da cena de ultradireita europeia afirmaram que o julgamento foi “político”, e visa somente minar as chances de Le Pen assumir a Presidência. Líder do partido ultradireitista francês Reunião Nacional (RN), ela era apontada como uma das candidatas mais fortes nas eleições presidenciais na França, em 2027.
Os políticos nacionalistas também acusaram o establishment político de “perseguir” e “minar” as vozes do que chamaram de “defensores europeus da liberdade e da democracia”. Parte deles esteve reunida com Le Pen na Espanha, em fevereiro, em um encontro da ultradireita europeia.
Le Pen foi condenada por uso indevido de recursos do Parlamento Europeu na época em que foi eurodeputada. A denúncia se baseia no uso de verba da UE para pagar assistentes que efetivamente trabalhavam para seu partido. Além de perder os direitos políticos por 5 anos, a pena também inclui prisão domiciliar e multa de 100 mil euros (R$ 620 mil). A decisão cabe recurso.
“Eu sou Marine”
“Je suis Marine!” (“Eu sou Marine”), escreveu o seu aliado e primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, numa publicação na rede social X. Para o premiê nacionalista, Le Pen junta-se às fileiras dos “patriotas” que, segundo ele, são vítimas de um complô, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ou o vice-primeiro-ministro italiano, Matteo Salvini, que já tiveram problemas com a Justiça em seus países.
Salvini, político linha-dura e líder da Liga Italiana, disse que Bruxelas faz uma “declaração de guerra” ao permitir a condenação de Le Pen, já que a acusação se deu por sua atuação no Parlamento Europeu.
Segundo ele, há um “ataque” à ultradireita que se repete em todo o continente.
“Aqueles que temem o julgamento do eleitorado geralmente buscam segurança nos tribunais. Em Paris, eles condenaram Marine Le Pen e gostariam de removê-la da vida política. Um filme ruim que também pode ser visto em outros países, como a Romênia”, disse.
Na Romênia, autoridades eleitorais barraram no começo de março acandidatura do ultradireitista Calin Georgescu à eleição presidencial suplementar marcada para maio.
Georgescu, um fundamentalista cristão ortodoxo, admirador de Vladimir Putin e de antigos fascistas romenos, ganhou projeção ao disparar na preferência dos eleitores no primeiro turno da eleição presidencial de novembro passado, a despeito de não figurar em pesquisas anteriores. O pleito foi anulado por acusações de interferência russa.
Após Georgescu ser barrado, a Rússia e o governo de Donald Trump, nos EUA, criticaram a decisão.
Também em reação ao julgamento francês, a Rússia defendeu que a Justiça francesa viola “as normas democráticas”.
“A nossa observação do que se passa nas capitais europeias mostra que não há qualquer hesitação em ultrapassar as normas democráticas durante um processo político”, reagiu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
“Sistema silencia políticos nacionalistas”
Na Espanha, o líder do partido anti-imigração Vox, Santiago Abascal, disse que os tribunais “não vão conseguir calar a voz do povo francês.”
Geert Wilders, que comanda a sigla mais à direita na Holanda, disse estar “chocado” com a decisão. “Estou convencido de que ela vai ganhar o recurso e que se vai tornar Presidente de França”, afirmou na rede social X.
Na vizinha Bélgica, o líder do partido separatista Vlaams Belang, Van Grieken, também culpou o establishment político pela condenação.
“Quando os políticos nacionalistas ganham popularidade, o sistema busca outras formas não democráticas de silenciá-los”, afirmou.
Manifestações similares se multiplicaram também na Bósnia, onde o político separatista Milorad Dodik acusou o sistema judicial de atacar aqueles que defendem a democracia.
“Marine Le Pen foi condenada porque é uma ameaça para um sistema que não sabe perder”, disse o dirigente, que foi recentemente condenado pela justiça a uma pena de prisão e à proibição de exercer funções políticas.
Já na França, Eric Zemmour, antigo candidato presidencial de ultradireita e rival de Le Pen, escreveu no X que “não cabe aos juízes decidirem em quem o povo deve votar”.
“Independentemente das nossas divergências”, Marine Le Pen “tem legitimidade para se apresentar ao sufrágio”, considerou. “Lamento que os políticos tenham dado este poder exorbitante à justiça. É preciso mudar isto”, defendeu Zemmour.
gq (Lusa, ots)