Eleição, por colégio eleitoral, acirra ainda mais a turbulência social e política que sacode o país há semanas. Atual presidente não reconhece resultado e se recusa a deixar o cargo.O candidato pró-Rússia e ex-jogador de futebol Mikhail Kavelashvili foi eleito presidente da Geórgia neste sábado (14/12) em uma votação por um colégio eleitoral dominado pelo partido governante e que foi boicotada pela oposição ao governo do primeiro-ministro, Irakli Kobakhidze.

A medida tensiona ainda mais a turbulência social e política que sacode o país há semanas.

Desde a altamente contestada eleição legislativa de outubro deste ano, a Geórgia enfrenta uma onda de protestos, respondidos pelo governo com o uso de força, em uma ação policial que já deixou dezenas de presos e feridos. Manifestantes afirmam que houve fraude no pleito de outubro, e não reconhecem o novo Parlamento.

A decisão do governo de suspender as conversas para adesão da Geórgia à União Europeia pioraram o cenário de violência nas ruas do país.

Candidato único

Kavelashvili, que recebeu o apoio de 224 dos 300 deputados nacionais e representantes regionais convocados, substitui como chefe de Estado Salome Zurabishvili, que se recusa a deixar o cargo por não reconhecer a legitimidade do resultado das eleições parlamentares de outubro.

Candidato único na disputa, Kavelashvili tornou-se assim o sexto presidente na história do país desde a independência da União Soviética, em 1991.

Concorrendo pelo partido governista Sonho Georgiano (SG), o mesmo do premiê Kobakhidze, Kavelashvili atua como deputado desde 2016, depois de uma carreira no futebol como atacante que inclui uma passagem pelo Manchester City nos anos 90.

Nascido em 1971, ele é o fundador do movimento A Força do Povo, que promoveu a aprovação de leis contra influência estrangeira e minorias sexuais – elas foram condenadas pela oposição e pelo Ocidente pela semelhança com as regras draconianas promulgadas pela Rússia para reprimir a oposição e os homossexuais.

Manifestação diante do Parlamento

A oposição, que vem se manifestando diariamente na capital, Tbilisi, desde que o governo congelou as negociações de adesão à União Europeia em 28 de novembro, fez uma manifestação em frente ao prédio do Parlamento nas primeiras horas da manhã.

“Escravos” e “russos” são algumas das palavras de ordem entoadas pelos ativistas, que consideram um “insulto” o fato de o novo chefe de Estado não ter formação superior.

Para evitar incidentes, a polícia fechou as ruas adjacentes, onde os deputados entram no Parlamento, e disponibilizou caminhões com canhões de água.

Mudança de regras

As autoridades modificaram o mecanismo de eleição do presidente, que, pela primeira vez, não foi resultado de sufrágio universal, mas de uma votação colegiada de 150 deputados e 150 delegados regionais.

Além dos deputados, 89 dos quais são do SG, 21 deputados do Parlamento Autônomo de Adzharia, 20 do Conselho Supremo da Abkhazia no exílio e 109 delegados municipais também estavam qualificados para participar.

“Farsa constitucional”

Salome Zurabishvili, que é presidente desde 2018, reiterou em uma entrevista coletiva na noite de sexta-feira que não vai renunciar, chamou a votação de “farsa inconstitucional” e pediu que os protestos continuem.

De acordo com a oposição, que considera fraudulenta a vitória eleitoral do SG nas eleições legislativas de outubro, não há atualmente uma composição parlamentar legítima no país, e “um Parlamento ilegítimo não pode eleger um novo presidente”.

md (EFE, DW, ots)