Membros do partido Alternativa para Alemanha (AfD) confirmaram estar presentes em um encontro onde o tema foi pautado. Sigla, porém, disse que não adotará proposta levada à reunião por extremista de direita austríaco.Políticos do partido alemão de ultradireita AfD participaram de uma reunião com um líder extremista austríaco em que se falou em deportações em massa de imigrantes. A informação foi confirmada pela legenda nesta quarta-feira (10/01). A sigla, entretanto, nega quaisquer planos de adotar tal proposta.

A notícia fora publicada pela editora de jornalismo investigativo Correctiv. A reportagem informou que Martin Sellner, que lidera o Movimento Identitário Áustria (IBÖ), apresentou um plano para levar da Alemanha para o norte de África até dois milhões de requerentes de refúgio e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.

Ele também teria sugerido que, quando a AfD chegasse ao poder, o maior “problema” para o partido seria a expulsão de “cidadãos não assimilados”.

O encontro, perto da cidade de Potsdam, no estado de Brandemburgo, teria reunido políticos, advogados, empresários, médicos e dentistas, entre outros, segundo o Correctiv.

Sellner confirmou a presença no encontro, dizendo que este ocorreu no final de novembro. “Apresentei ali o meu livro e o conceito identitário de remigração”, ressaltou, usando uma expressão que normalmente a extrema direita usa para falar em deportação de imigrantes para seu país de origem. A palavra também já foi usada em algumas ocasiões por membros da própria AfD.

O austríaco acrescentou que o seu “conceito visa migrantes que não são assimilados, ou que pesam cultural, econômica e criminalmente na sociedade”.

Sellner também afirmou que seu plano não era secreto e que estava sendo “discutido ampla e publicamente no campo patriótico”.

“Grande substituição”

O movimento identitário prega a teoria de conspiração da “Grande Substituição”, segundo a qual uma elite poderosa e oculta (muitas vezes especificada como judaica) estaria tentando desalojar a população etnicamente branca através de imigração da África e do Oriente Médio,

A AfD disse que Roland Hartwig, que é assessor da colíder Alice Weidel, de fato esteve presente no encontro, mas apenas para apresentar um projeto de mídia social.

A sigla de ultradireita sublinhou que Hartwig não “trouxe as ideias de Sellner sobre políticas de migração” para o partido e acrescentou que “não mudaria as suas políticas de imigração com base nas ideias individuais de uma pessoa presente na reunião”. A AfD também ressaltou que não era a organizadora do evento, que tinha caráter privado.

Segundo o Correctiv, um dos participantes da AfD alegou que o partido já não se opõe à dupla cidadania, pois “pode-se então tirar a alemã e eles ainda terão uma”.

Criada em 2013 como um grupo anti-euro antes de se transformar num partido anti-imigração, a AfD entrou no Parlamento alemão pela primeira vez em 2017, devido ao descontentamento de parte da população com um enorme afluxo de migrantes, muitos deles fugindo das guerras na Síria e no Iraque.

O apoio ao partido caiu para cerca de 10% nas eleições de 2021, mas desde então a sigla recuperou terreno enquanto a coalizão do chanceler federal alemão, Olaf Scholz, luta com uma crise energética, uma inflação maciça e uma economia em dificuldades na sequência da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Nos estados da antiga Alemanha Oriental, a legenda chega a ter 30% das intenções de voto, em sondagens sobre as eleições federais.

“Ideologias desumanas”

Também aumentaram as preocupações sobre o apelo do partido antes das eleições regionais previstas para a segunda metade do ano nos estados da Turíngia, Saxônia e Brandemburgo, onde o apoio à AfD tem sido tradicionalmente mais forte.

A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, afirmou numa publicação no X (antigo Twitter), que ideologia por trás do plano discutido na reunião visa ameaçar “os fundamentos da nossa democracia”.

Em entrevista à revista Stern, Faeser alertou contra a legenda de ultradireita afirmando que “ninguém deve subestimar este perigo”, acrescentando que na AfD são propagadas “ideologias desumanas”.

md/le (AFP, DPA, ots)