23/02/2024 - 15:10
Dados do Censo 2022 sobre saneamento básico evidenciam desigualdade social. Negros, pardos e indígenas são os mais afetados por falta de serviços básicos como água potável e coleta de lixo.Dados do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira (23/02) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 90,9% da população brasileira conta com serviços de coleta de lixo, 96,9% têm acesso a água potável e 75,7% vive em domicílios com esgotamento por rede coletora ou fossa séptica.
Embora todas as categorias apresentem melhoras em relação ao Censo 2010, os dados revelam um abismo social entre brasileiros de acordo com a região em que vivem, a cor da pele e a idade que têm.
De acordo com o Censo 2022, as pessoas de cor ou raça amarela, seguidas das de cor ou raça branca, tiveram as maiores proporções de conexão a redes de serviços de saneamento básico e maior índice de presença de instalações sanitárias nos domicílios. Por outro lado, as de cor ou raça preta, parda e indígena apresentaram as menores proporções.
“Esse panorama está ligado à distribuição regional dos grupos, com presença maior da população de cor ou raça preta, parda e indígena no Norte e Nordeste, regiões com menor infraestrutura de saneamento. Em todos os 20 municípios brasileiros mais populosos, a população de cor ou raça branca tem mais acesso a abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo do que a população de cor ou raça preta, parda e indígena”, explica o analista do IBGE Bruno Perez.
Outra clara diferença está na idade. Em 2022, as faixas etárias mais jovens apresentaram maior incidência de situação de precariedade no acesso a saneamento básico. Por exemplo: na população entre 0 e 4 anos, 3,4% residiam em domicílios sem canalização de água – no grupo com 60 anos ou mais, essa proporção era de 1,9%.
Quase 50 milhões de pessoas não têm esgoto
A proporção de domicílios com acesso à rede de coleta de esgoto no Brasil chegou a 62,5% em 2022, quase 10 pontos percentuais a mais que em 2010 (52,8%) e 18 a mais que em 2000 (44,4%).
De acordo com o levantamento, as duas soluções de esgotamento sanitário mais comuns no Brasil são por rede geral ou pluvial (58,3%) e fossa séptica ou fossa filtro não ligada à rede (13,2%), solução individual considerada adequada pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB). Além disso, fossa séptica ou fossa filtro ligada à rede representa 4,2%.
Apesar do aumento, 49 milhões de pessoas, ou seja, 24,3% da população, vivem em 16,4 milhões de domicílios com recursos precários de esgotamento sanitário.
“Entre os serviços que compõem o saneamento básico, a coleta de esgoto é o mais difícil, pois demanda uma estrutura mais cara do que os demais. O Censo 2022 reflete isso, mostrando expansão do esgotamento sanitário no Brasil, porém com uma cobertura ainda inferior à da distribuição de água e à da coleta de lixo”, explica Perez.
Para 19,4% da população, a “fossa rudimentar ou buraco” ainda é a forma de esgotamento sanitário. Além disso, 2% têm esgotamento diretamente em rio, lago, córrego ou mar, 1,5% por vala e 0,7% por outras formas.
A região Sudeste é a que apresenta a maior parcela da população morando em domicílios com coleta de esgoto: 86,2%. No sentido oposto está a região Norte, onde são apenas 22,8%. Entre as unidades da federação, os destaques no lado positivo e no negativo foram, respectivamente, São Paulo (90,8%) e Amapá (11,0%).
Quanto menor a cidade, menor o acesso à rede de esgoto: nos municípios com até 5 mil habitantes, apenas 28,6% deles viviam em domicílios com coleta de esgoto. Esse número sobe gradualmente, até atingir 83,4% nos municípios com mais de 500 mil habitantes. O mesmo ocorre com a coleta de lixo: quanto maior a cidade, mais difundida e acessível ela é.
Coleta de lixo alcança quase 100% em SP
A pesquisa mostra que 82,5% dos brasileiros têm resíduos sólidos coletados diretamente no domicílio por serviços de limpeza e 8,4% depositam o lixo em caçamba, para que seja coletado pelas equipes.
Em 2000, a proporção era de 76,4% e, em 2010, de 85,8% em 2010. São Paulo é o estado com maior cobertura de coleta de lixo, 99%, e o Maranhão, com a menor (69,8%).
Entre os 9,1% que não têm acesso à coleta, 7,9% recorrem à queima dos resíduos em sua propriedade, 0,3% enterram o lixo, 0,6% jogam em terrenos baldios ou áreas públicas e 0,3% dão outro destino.
Água chega a quase todos os brasileiros
Em todo o Brasil, 96,9% das pessoas têm acesso à água para consumo: 82,9% são abastecidas por redes gerais de distribuição, 9% por poços profundos ou artesianos, 3,2% por poços rasos ou cacimbas e 1,9% por fontes, nascentes ou minas – todas modalidades previstas pelo Plano Nacional de Saneamento Básico.
De acordo com o Censo 2010, 81,5% das pessoas tinham acesso ao abastecimento pela rede geral – em 2022, já eram 86,6%, mas 3,7% recorriam principalmente a outras fontes.
Além das quatro fontes consideradas adequadas, outras modalidades de acesso à água são: carro-pipa (1,1%), água da chuva armazenada (0,6%), rios, açudes, córregos, lagos e igarapés (0,9%) e outras (0,6%).
Apesar da baixa relevância nacional, o abastecimento por carro-pipa é a principal forma de acesso a água potável em 68 municípios do país, todos eles no Nordeste.
Grande maioria vive em casas
As casas são o principal tipo de domicílio no Brasil: 84,8% dos brasileiros vivem nesse tipo de moradia. Em segundo lugar, aparecem os apartamentos (12,5%), seguidos por casas em vilas ou em condomínios (2,4%).
Outros tipos de residência registrados são casa de cômodos ou cortiços (0,2%), habitação indígena sem parede/malocas (0,03%) e estruturas residenciais permanentes degradadas ou inacabadas (0,04%).
Os únicos três municípios em que os apartamentos superam as casas são Santos e São Caetano do Sul, ambos em São Paulo, e Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Entre as unidades da federação, a maior proporção de pessoas vivendo em apartamentos é no Distrito Federal (28,7%), enquanto o Piauí tem a maior parcela de moradores vivendo em casas (95,6%).
O Censo também mostra que 97,8% da população brasileira vive em domicílios com ao menos um banheiro (cômodo com vaso sanitário e instalações para banho) de uso exclusivo dos moradores e hóspedes. Em 2010, esse índice era 92,3%.
le (ots)