01/07/2008 - 0:00
Os pingüins, albatrozes, focas, golfinhos e outros animais marinhos são vítimas constantes de acidentes ambientais ou de situações de risco. Imagens de aves – em geral as mais atingidas – com as penas encharcadas de óleo provocam grande comoção.
Entretanto, dependendo do tempo de exposição do animal à contaminação, suas chances de sobreviver são de até 80%. E é para isso que se empenham o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (Cram), em Rio Grande (RS), que desde 2000 mantém convênio com a Petrobras, e os Centros de Defesa Ambiental (CDA) da companhia.
“Operamos uma eficiente rede de proteção à fauna impactada pelos acidentes ambientais”, orgulha- se o gerente do convênio, o engenheiro Isaac Wegner, da área de Contingência do SMS (sigla de Segurança, Meio Ambiente e Saúde) Corporativo.
Em qualquer situação de emergência ambiental com potenciais danos à fauna, o SMS aciona os técnicos do Cram para o suporte especializado no resgate, na limpeza e na reabilitação de animais afetados pelo óleo. Nos últimos dez anos, o centro atendeu – sobretudo no período de maior ocorrência, entre abril e novembro -, em média, 110 animais por ano.
Em convênio de 24 horas, a infra-estrutura para a atuação dos técnicos do Cram é fornecida por cinco dos dez Centros de Defesa Ambiental do País, localizados em Itajaí (CDA-Sul), Guarulhos (CDA-SP), Duque de Caxias (CDA-RJ), Madre de Deus (CDA-BA) e Manaus (CDA-Amazônia).
Chamadas de Unidades Móveis de Reabilitação, essas instalações funcionam como UTIs veterinárias. Elas incluem dois contêineres com depósito de água, ambiente climatizado, água quente, tanque de dejetos e todas as ferramentas necessárias a essa atividade. Não têm equipes próprias, mas, como o atendimento deve ser prestado próximo ao local em que o animal foi resgatado, podem acionar voluntários nas emergências.
Visão estratégica
As equipes dos Centros de Defesa Ambiental, do Cram e das Unidades Móveis de Reabilitação da Fauna proporcionam o apoio operacional, técnico e logístico para capturar os animais impactados, reabilitá-los e devolvê-los à natureza. É mais uma atuação que reforça o compromisso com a responsabilidade socioambiental e a excelência em segurança, meio ambiente e saúde inserido no Plano Estratégico da Petrobras 2020. É cada vez maior o interesse geral pelo modo como as empresas tratam o meio ambiente e a biodiversidade impactada por suas atividades.
Ao chegar a um dos centros, o animal é avaliado pelo veterinário, para que suas funções vitais sejam estabilizadas, e tratado com soro e repouso. Depois, toma banhos de água quente com detergente para a remoção do óleo. “Quando chegam, muitas vezes os animais têm de ser alimentados na boca. Mas, assim que começam a se recuperar, são liberados para pequenos vôos ou mergulhos e já comem sozinhos, até que o veterinário permita sua volta ao ecossistema”, explica o físico da Petrobras Pedro Penido, um dos pioneiros no projeto do Cram.
Experiências marcantes – A alma do Cram, porém, atende pelo nome de Lauro Barcellos, oceanógrafo gaúcho que em 1974, por iniciativa própria, começou a reabilitar os animais marinhos enfermos e debilitados que encontrava e resgatava nas praias gaúchas. “Ficava chocado ao ver os animais morrendo, na maioria vítimas de situações criadas pelo homem”, lembra Barcellos.
A limpeza dos tanques de navios em alto-mar é um dos motivos do aumento da incidência de animais marinhos contaminados por óleo.
Trabalham com ele dois oceanólogos, dois veterinários, um técnico em logística e um tratador de animais, além de cerca de 20 estagiários por semana e voluntários para casos de grandes contaminações.
Segundo Barcellos, a área do País com maior incidência de animais marinhos afetados por óleo é o litoral sul do Rio Grande do Sul, por causa da proximidade das colônias reprodutivas de pingüins, lobos e leões-marinhos. Outra causa provável é o intenso tráfego de navios que limpam seus tanques em altomar. “Isso causa derramamentos crônicos, que matam mais animais do que os derramamentos localizados, já que não existe nenhum esforço de limpeza do ambiente”, explica o oceanógrafo.
Mantido pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), o Cram também oferece treinamento a voluntários, com o patrocínio da Petrobras. Em 1996, foi inaugurada a nova sede junto ao Museu Oceanográfico, em Rio Grande, que inclui dois tanques, com capacidade de 300 mil litros cada um, e uma área de descanso para a clientela, além de um ambulatório e uma unidade de limpeza de animais.
“Em casos com potenciais impactos na fauna, temos contatos de emergência com especialistas e um cadastro de voluntários treinados pelo Cram, que podem ser rapidamente acionados”, explica Wegner.
Testemunhos de uma bela história
“Desde 2001 ensino teoria ecológica nos diversos centros do Brasil. Minha maior emoção aconteceu logo no início, em Rio Bonito (RJ), quando recuperamos três gansos de uma fazenda afetados por óleo. É muito gratificante liberar o animal saudável de volta a seu hábitat.”
Talita de Azevedo Aguiar Pereira, bióloga e analista ambiental
“No vazamento de 2000 na Baía de Guanabara, coordenei o salvamento de emergência dos animais atingidos e comecei o projeto do Cram, por meio do Centro de Pesquisa da Petrobras. Cada ave ou animal que devolvemos ao ecossistema é um beijo na alma.”
Pedro Penido, físico, um dos pioneiros do Cram, hoje coordenador do Programa Tecnológico de Meio Ambiente (Proamb)
Não foi no Brasil, porém, que ocorreu a mais dramática experiência vivida por Barcellos. No ano 2000, uma equipe com quase 14 mil voluntários foi à Cidade do Cabo (África do Sul) para colaborar na reabilitação de 25 mil pingüins atingidos pelo vazamento de óleo de um navio. “Foi como uma grande guerra, com muitos feridos e enormes áreas montadas para abrigar as aves que não paravam de chegar”, lembra. “O que mais me emocionou foi sentir a solidariedade dos voluntários de vários lugares do mundo.” É mesmo uma causa nobre, que mobiliza desde especialistas até voluntários anônimos, capazes de perder noites de sono nem que seja para salvar uma única vida.