25/08/2025 - 15:58
Um artigo publicado no periódico científico “Global Change Biology” em 11 de junho apontou que a urbanização está fazendo as aves megacoloridas desaparecerem das cidades brasileiras. Conforme o estudo, os pássaros mais afetados foram os que viviam na Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado.
O artigo foi feito através da combinação de dados de todo o Brasil. Os pesquisadores analisaram registros de onde as aves foram observadas, qual era a cobertura do terreno onde foram vistas — se era urbano ou não — e quais as características das espécies.
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O pesquisador Lucas Ferreira do Nascimento, pós-doutorando do IB (Instituto de Biociências) da USP (Universidade de São Paulo) e autor do artigo, explica que o ambiente urbano é um bioma “voltado para suprir as necessidades de uma única espécie” e ameaça a biodiversidade.
“O crescimento da cidade é algo extremamente agressivo. Uma cidade como São Paulo, que é a quinta maior do mundo, avançou sobre um dos biomas mais biodiversos, que é a Mata Atlântica”, comenta o pesquisador.
Alimentação restrita e predação
No caso das aves mais coloridas, o problema vai além da destruição de habitat, segundo Ferreira. O pesquisador aponta que, por serem pequenos e com uma dieta baseada em frutas, os pássaros de plumagem exuberante se tornam presas fáceis para outros animais e não conseguem sobreviver por conta da sua alimentação restrita.
“Essas espécies megacoloridas são particularmente ameaçadas pela urbanização”, pontua o pós-doutorando do IB da USP. O foco do artigo de Ferreira foram as aves passeriformes, como a saíra-sete-cores, a saíra-militar e a saíra-ferrugem.
“Os ambientes urbanos não favorecem essas espécies que são frugívoras e que são pequenas”, argumenta Ferreira, acrescentando que, geralmente, os animais que conseguem viver nas cidades são grandes e onívoros, se alimentando de restos deixados pelos seres humanos.
Conforme Ferreira, como a urbanização é um processo que ainda está ocorrendo, o desaparecimento da fauna por conta das cidades é cada vez mais observado. “Quanto mais perto de aglomerações urbanas, maior a probabilidade da espécie ser traficada ilegalmente”, acrescenta o pesquisador sobre outro fator que contribui com o sumiço de aves coloridas.
Como evitar o desaparecimento das aves megacoloridas?
“A cidade avança sobre a paisagem natural e essas espécies vão resistindo. Muitas têm uma dinâmica de acabar forrageando em um local urbano, mas se refugiando em uma ‘manchinha’ de floresta”, indica Ferreira, citando os parques como um exemplo.
Para o pesquisador, não há como pensar em uma forma de favorecer as aves mais coloridas em um ambiente urbano sem ajudar a biodiversidade como um todo. “A gente tem que mudar a lógica da cidade, que ela seja voltada para outras espécies além da nossa.”
Ferreira acredita que a criação de mais áreas verdes em espaços urbanos e a plantação de árvores frutíferas também pode permitir que as aves mais coloridas continuem vivendo nas cidades.
**Estagiário sob supervisão