20/07/2025 - 17:25
A ursa Gaia, que matou corredor na Itália em 2023, era pivô de disputa entre autoridades que queriam sacrificá-la e ativistas que lideraram campanha para poupá-la. Agora, ela passará a viver num santuário na Alemanha.Uma ursa-parda conhecida como JJ4 ou Gaia, que matou um corredor no norte da Itália em 2023, foi transferida neste fim de semana para um santuário de vida selvagem na Alemanha.
A transferência de Gaia ocorreu na esteira de uma série disputas judiciais e protestos. Inicialmente, autoridades regionais da Itália planejavam sacrificar o animal, mas a ursa acabou sendo “absolvida” por um tribunal do país após um grupo e ativistas entrar com uma bem-sucedida ação na Justiça para impedir que ela fosse abatida. O caso alimentou debates acalorados na Itália sobre o conflito entre humanos e a vida selvagem.
Como está a ursa?
O animal chegou na manhã de domingo (20/07) ao Parque Alternativo de Lobos e Ursos, em Freudenstadt, na Floresta Negra, sul da Alemanha.
Funcionários do santuário confirmaram que a ursa foi transportada do norte da Itália durante a noite e parecia calma e em boas condições ao chegar.
“Ela está sendo cuidada, se alimentou e está se comportando de forma tranquila”, disse um porta-voz do parque.
Por que Gaia se tornou pivô de disputa?
Gaia ou JJ4 vinha sendo mantida em uma instalação de vida selvagem perto da cidade de Trento, no norte da Itália, desde que foi capturada em 17 de abril de 2023.
À época, a operação para capturá-la foi iniciada após o corpo de Andrea Papi, de 26 anos, ter sido encontrado dias antes na floresta do Monte Peller, onde ele costumava correr. Testes de DNA mostraram que Gaia, que já tinha um histórico de ataques, estava por trás da morte.
Após a captura do animal, Maurizio Fugatti, governador da província de Trento, ordenou que ela fosse sacrificada.
No entanto, grupos de defesa dos animais protestaram e acabaram revertendo a ordem na Justiça.
O santuário alemão concordou em receber a ursa sob condições rigorosas. A transferência foi mantida em segredo até sua conclusão para evitar possíveis protestos.
O que vai acontecer com Gaia agora?
A ursa viverá em um recinto especialmente projetado de um hectare — cercado por cercas elétricas e barreiras subterrâneas.
A construção custou cerca de um milhão de euros e foi financiada por doações privadas.
Espera-se que a ursa receba um novo nome, já que “Gaia” já foi atribuído a outro animal no parque.
Os responsáveis afirmam que sistemas de vigilância irão monitorar a atividade da ursa enquanto ela se adapta ao novo ambiente.
De acordo com a Província Autônoma de Trento, outros dois ursos problemáticos, Jurka (a mãe de Gaia) e DJ3, que foram removidos da região, já vivem no mesmo santuário da Alemanha desde os anos 2010.
Quão comuns são ataques de ursos?
Os ursos-pardos alpinos estavam à beira da extinção décadas atrás. Nos anos 1990, a União Europeia passou a financiar projetos para reintroduzir a espécie e levou dez ursos da Eslovênia para o norte da Itália entre 1999 e 2002. Entre os animais que chegaram estavam os pais de Gaia.
Mas a região de Trento, antes orgulhosa de seu projeto de reintrodução de ursos, agora enfrenta um aumento nos conflitos entre humanos e ursos. Em 2023, três ursos foram mortos sob novas regras que permitem remoções direcionadas.
A população saltou para cerca de 100 indivíduos desde o início dos esforços de reintrodução, no fim dos anos 1990.
Gaia é irmã de outros dois “ursos-problema”: Bruno (JJ1), abatido no estado alemão Baviera em 2006, e de JJ3, morto na Suíça.
Já o caso de Gaia provocou polêmica não apenas pela tentativa de sacrificá-la, mas também pela atuação das autoridades. Embora já tivesse ferido duas pessoas antes da morte do corredor Papi, a justiça havia bloqueado tentativas anteriores de removê-la da natureza.
Neste fim de semana, a família da vítima disse à agência de notícias Ansa que quer reabrir o caso. “Nunca pedimos que a ursa fosse sacrificada. Amamos os animais, mas eles não nos fizeram justiça. Não se pode dizer que não há ninguém para culpar. JJ4 (Gaia) fez 67 incursões quando estava livre, eles sabiam que ela era perigosa”, declararam os pais do corredor, Carlo e Franca Papi. “Ele [Andrea] estava no lugar errado na hora errada, mas poderia ter acontecido com qualquer pessoa e pode acontecer novamente.”
jps (DW, Ansa, ots)