Um estudo divulgado esta semana pelo governo do Canadá mostra que os ursos-polares estão desaparecendo rapidamente do oeste da Baía de Hudson, no norte do país.

Pesquisadores sobrevoam a região – que inclui a cidade de Churchill, um destino turístico considerado a “capital mundial do urso-polar” – a cada cinco anos para contar o número de ursos e estimar as tendências populacionais.

Entre o final de agosto e início de setembro de 2021, os investigadores registraram 194 ursos. A partir desta contagem, os cientistas estimam que havia na época 618 ursos-polares na área – o levantamento anterior, realizado em 2016, estimava 842. A cifra representa uma queda de 27% em apenas cinco anos – de 2011 a 2016 a queda tinha sido de 11%.

“Os declínios observados são consistentes com as previsões de longa data sobre os efeitos demográficos das alterações climáticas nos ursos-polares”, salienta o estudo, que mostra que a diminuição é ainda mais drástica entre fêmeas e filhotes.

Embora não possam afirmar com absoluta certeza os motivos da queda, os cientistas apontam que ela pode ser causada, sobretudo, pela movimentação de animais para regiões vizinhas e pela caça. Outra hipótese é que mudanças causadas pelo clima na população local de focas podem estar reduzindo o número de ursos.

“Houve um número muito baixo de filhotes sendo gerados em 2021”, disse Andrew Derocher, que lidera o Polar Bear Science Lab na Universidade de Alberta. “Estamos olhando para uma população que envelhece lentamente e, quando há anos ruins [de gelo], os ursos mais velhos são muito mais vulneráveis ​​ao aumento da mortalidade”, explica.

Ameaça de extinção

Há 19 populações de ursos-polares espalhadas pela Rússia, Alasca (EUA), Noruega, Groenlândia e Canadá. Mas a Baía de Hudson está entre os locais mais ao sul, e os cientistas projetam que os ursos dali provavelmente estarão entre os primeiros a desaparecer.

“De certa forma, é totalmente chocante”, disse John Whiteman, cientista-chefe de pesquisa da organização sem fins lucrativos Polar Bears International. “O que é realmente preocupante é que esses tipos de declínio são do tipo que, a menos que a perda de gelo do mar seja interrompida, estão previstos para eventualmente causar extinção”, destaca.

Os ursos-polares dependem do gelo para se alimentar de focas, para se movimentar e para se reproduzir. Mas, nos últimos tempos, ao redor da Baía de Hudson, o gelo marinho sazonal está derretendo no início da primavera e se formando no final do outono, forçando os ursos a passar mais tempo sem comida.

Desde a década de 1980, a camada de gelo na baía diminuiu quase 50% no verão, de acordo com o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos EUA. Além disso, no Ártico, o aquecimento global é até quatro vezes mais rápido do que em outras partes do planeta.

Um estudo publicado na revista Nature Climate Change em 2021 descobriu que a maioria das populações de ursos-polares do mundo pode entrar em colapso até 2100, caso as emissões de gases de efeito estufa não sejam fortemente controladas. De acordo com o estudo, havia 1.200 ursos-polares nas margens ocidentais da Baía de Hudson na década de 1980 – o dobro de agora.

le (Lusa, AFP, Reuters)