21/04/2023 - 10:29
O relatório de abril da Energy Transition Commission (ETC) mostra que interromper a devastação das florestas tropicais no planeta até 2030 pode custar mais de US$ 130 bilhões anuais. A ETC é formada por financiadores, executivos do setor de energia e acadêmicos, entre eles executivos da petroleira BP e da gestora de investimentos BlackRock.
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A comissão afirma que a análise é uma estimativa inédita do montante que seria necessário “para superar o incentivo econômico de cortar árvores”, explicam Bloomberg e Bloomberg Línea. Baseia-se numa avaliação do volume de doações ou outras formas do chamado “financiamento concessional”, para pagar aos proprietários de terra que não desmatassem.
Segundo o relatório, o desmatamento pode, em princípio, ser detido por meio de três alavancas não financeiras: a redução da demanda dos consumidores pelos principais produtos que rentabilizam a devastação – em particular, carne animal e óleo de palma; o desenvolvimento de negócios alternativos que possam lucrar com as florestas em pé – como o ecoturismo e a agrossilvicultura sustentável; e ações de governo para tornar o desmatamento ilegal, combinadas com uma fiscalização efetiva.
Contudo, a ETC ressalta que tais ações levarão tempo para se desenvolver; fornecerão apenas uma solução parcial; ou poderão não ser totalmente eficazes no curto prazo. Logo, os pagamentos de concessões/doações de cerca de US$ 130 bilhões por ano até o fim desta década devem desempenhar um papel importante na proteção florestal, enquanto as alavancas não financeiras são ampliadas.
Abordagem diferente
A comissão ainda afirma que é crucial que o financiamento seja fornecido juntamente com a ação dos formuladores de políticas para tornar o desmatamento ilegal e reduzir a demanda do consumidor pelos produtos que tornam o desmatamento lucrativo.
Adair Turner, ex-regulador financeiro de Londres e presidente da ETC, reforça a necessidade de uma abordagem diferente para financiar a preservação das florestas. Ele destaca que evitar o desmatamento requer “uma categoria diferente de fluxo financeiro”, ou seja, “pagar alguém para não fazer algo”, sem esperar uma taxa direta de retorno.
Turner disse ao Guardian que os governos não devem se iludir sobre a escala do desafio. “Enquanto o mundo consumir mais carne vermelha, haverá um incentivo para desmatar mais áreas de floresta tropical. Se tivermos US$ 130 bilhões chegando, isso pode fazer uma diferença significativa. Mas não colocaria uma parada total ou permanente nisso. O perigo seria que ela voltasse nos próximos anos”, sentenciou.
O documento recente da ETC complementa o relatório “Financing the Transition: How to make the money flow for a net-zero economy”, publicado pela comissão em março.
Em tempo: Quase um terço dos ambientes costeiros do mundo depende de algas para reduzir a poluição local e sustentar a pesca que fornece bilhões de dólares em benefícios. Mas a crise climática, a sobrepesca, as invasões de ouriços-do-mar e a poluição estão colocando em risco as florestas de algas do mundo, ameaçando os benefícios econômicos que elas fornecem e a enorme variedade de espécies que sustentam, mostra um estudo publicado na Nature Communications. “São as florestas do mar. Se perdermos essas florestas de algas, perderemos os oceanos como os conhecemos em todo o mundo”, disse Aaron Eger, principal autor do estudo, ao Guardian. Cerca de 740 milhões de pessoas no planeta vivem a 50 km de ambientes marinhos dominados por algas, destaca a publicação.