15/07/2021 - 7:04
O número de casos de covid-19 tem aumentado rapidamente no Reino Unido nas últimas semanas. Cerca de 95% dos casos sequenciados são de infecções pela variante delta do coronavírus. E dois terços da população do país já foram vacinados. Para alguns, isso não faz sentido: como a variante pode se espalhar tão rapidamente, apesar das altas taxas de vacinação?
Críticos da vacinação usam este cenário para fins próprios: o micropartido alemão Die Basis (A Base) é uma das muitas fontes que espalha especulações nas redes sociais de que a variante delta pode ter sido causada pelas vacinas contra o novo coronavírus, sem fornecer nenhuma evidência para essa teoria.
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Como surgem as variantes de um vírus?
É impossível que a variante delta tenha sido causada por vacinas. Ela foi detectada pela primeira vez em outubro de 2020 no estado indiano de Maharashtra. A primeira pessoa na Índia a ser imunizada, no entanto, recebeu a vacina em janeiro de 2021, três meses após ser detectada a variante delta.
A seguir, explicamos como surgem variantes e por que as vacinas não podem ser consideradas responsáveis por elas.
Os vírus levam suas informações genéticas para uma célula hospedeira a fim de se multiplicarem. A cada reprodução, há pequenos erros de cópia, e cada um desses erros também muda o código genético do vírus. Portanto, ele está em constante mutação, e isso é bem normal.
Em alguns casos, essas mutações tornam o vírus mais eficiente, por exemplo, permitindo que ele escape de reações imunes como as provocadas por vacinas ou infecções anteriores. Mas elas também podem tornar o vírus menos eficiente, ou seja, o enfraquecer. E acontece também de elas não terem efeito algum.
Na evolução das mutações do vírus, a variante mais forte prevalece. No caso do coronavírus, isso significa que as variantes mais infecciosas, por exemplo, suprimem as formas menos perigosas do vírus.
O que define a variante delta?
As funções exatas das mutações contidas na variante delta ainda não foram pesquisadas cientificamente. Até agora, no entanto, sabe-se que elas permitem que o vírus se ligue mais facilmente às células humanas e escape de algumas reações imunológicas, disse Deepti Gurdasani, epidemiologista clínico da Queen Mary University de Londres, em entrevista à DW. A própria variante delta já sofreu várias mutações.
Peggy Riese, cientista do Centro Helmholtz para Pesquisa de Infecções em Braunschweig, na Alemanha, afirma que também foi descoberto que a variante delta leva a uma carga viral mais alta, por exemplo, na garganta, o que também é confirmado por outros cientistas entrevistados pela DW.
O que significa fuga imunológica?
Se o vírus sofrer uma mutação que faça com que os anticorpos eficazes contra o vírus original em pessoas vacinadas ou convalescentes, por exemplo, não sejam mais tão potentes para combater a nova variante, acontece a chamada fuga imunológica. Isso permite que as pessoas se infectem e adoeçam, apesar de estarem vacinadas ou já terem superado a doença.
Há fuga imunológica no caso da variante delta?
A variante delta se destaca tanto devido a sua maior transferibilidade como por uma espécie de fuga imunológica. “A mutação reduz o efeito de alguns anticorpos e assim também o reconhecimento pelo sistema imunológico”, disse o imunologista Georg Behrens, professor da Faculdade de Medicina de Hannover na Clínica de Reumatologia e Imunologia em entrevista à DW.
“Mas ainda não é uma verdadeira fuga imunológica, isso seria muito mais perceptível”, explicou a pesquisadora Peggy Riese.
Isso significa que a fuga imunológica não é suficientemente forte para tornar as vacinas inúteis. De fato, os resultados de um primeiro estudo mostram que, embora a variante delta seja, em princípio, mais resistente às vacinas atualmente utilizadas, uma vacinação completa continua oferecendo uma forte proteção.
No entanto, fabricantes de vacinas como a Biontech-Pfizer já estão desenvolvendo novas versões do imunizante que sejam mais eficazes contra a variante delta.
As vacinas podem causar mutações do vírus?
O virologista Friedemann Weber, da Universidade Justus Liebig, de Giessen, na Alemanha, afirma que não foram os vacinados que deram origem a novas variantes, mas os não vacinados: “Foram pessoas infectadas que deram origem a novas variantes e à fuga imunológica do vírus”.
Um olhar sobre Índia, Brasil e África do Sul mostra isso, disse. De acordo com Weber, foi nestes países, onde a porcentagem de pessoas vacinadas era muito baixa, que surgiram as variantes agora difundidas.
O coronavírus estava amplamente disseminado nestes três países na época em que mutações presumivelmente ocorreram. Isso proporciona condições ideais para novas variantes, disse Weber, porque o vírus usa o sistema imunológico enfraquecido em muitas pessoas infectadas para se adaptar melhor e contorná-lo.
A alegação de que as vacinas sejam responsáveis pelas mutações se mostra pelo menos enganosa se observarmos os países com altos índices de pessoas vacinadas: se as vacinas aumentassem maciçamente a probabilidade de mutação de um vírus, então novas variantes já estariam aparecendo em países como Israel ou Reino Unido, onde muitas pessoas já foram imunizadas, diz Peggy Riese.
“Mas este não é o caso, de modo algum. As mutações do vírus ocorrem precisamente naqueles países onde ainda não há uma taxa elevada de vacinação e um grande número de pessoas se reúne em áreas fechadas”, disse ela à DW.
Teoricamente, porém, existe a possibilidade de que as vacinas exerçam uma pressão imunológica sobre o vírus, diz Georg Behrens. “Então ele tenta escapar dessa pressão através de uma mutação”, explica.
Isso porque o vírus encontra populações apenas parcialmente vacinadas. Como resultado, algumas pessoas têm uma resposta imunológica, enquanto outras ainda podem ser infectadas. “É isso que o vírus quer”, disse Behrens. “E isto pode levar a outras mutações. É assim que o vírus se treina, basicamente.”
Em suma, em casos muito raros, as vacinas podem causar mutações e teoricamente promover sua propagação, mas é muito mais provável que ocorram mutações perigosas onde um vírus pode se propagar rápida e livremente.