A tragédia política, econômica e social da Venezuela se espalha por todas as instâncias do país, incluindo, é claro, o meio ambiente. Enquanto os órgãos oficiais que deveriam cuidar da preservação se esfacelam e faltam recursos para pesquisas, ampliam-se a caça ilegal e a destruição de habitats de espécies ameaçadas, além da exploração descontrolada de recursos minerais.

Animais como botos e peixes-bois estão reforçando o esquálido cardápio de pessoas na miséria. A bióloga Yurasi Briceño, do instituto venezuelano de pesquisas IVIC, que estuda o boto-cinza (um dos menores golfinhos do mundo) do Lago Maracaibo, declarou há algumas semanas à rede de rádio e TV alemã Deutsche Welle que, embora caçar essa espécie seja proibido na Venezuela há mais de 40 anos, ela já testemunhou capturas feitas por “pura necessidade”.

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O boto-cinza (Sotalia guianensis) é conhecido na Venezuela como tonina costera. “Desde 2017, o salário mínimo do país simplesmente não é suficiente, e falta acesso a proteínas. As pessoas então retomaram a busca por animais silvestres”, disse Briceño.

Já existem inclusive gangues especializadas na caça de mamíferos, afirma ela. “De um boto como esse, eles obtêm de sete a oito quilos de carne muscular comestível”, explicou a bióloga.

Outra atividade que tem crescido é o roubo de animais de zoológicos. De acordo com reportagens da mídia local, esses exemplares são depois vendidos ou consumidos como alimento.