Um estudo realizado por pesquisadores do Texas, nos EUA, publicado em 30 de outubro no periódico PLOS ONE, identificou o crescimento de micróbios em cadáveres humanos. A pesquisa partiu do fato de que corpos mortos continuam cheios de vida, já que ondas de bactérias se instalam ao lado de insetos e outros decompositores – alguns cientistas a chamam de necrobioma e seu estudo pode abrir portas para novas descobertas no mundo da ecologia da morte.

A análise foi realizada por meio da observação de dois cadáveres humanos durante o estágio do inchaço, na decomposição – ao longo deste processo bactérias que crescem dentro do corpo, produzem gases como o sulfeto de hidrogênio e o metano, que inflam o cadáver e forçam a saída dos fluidos em uma ruptura. Médicos legistas e cientistas reconhecem que o evento é diferente em cada amostra, mas é classificado como um dos mais importantes.

Os cadáveres usados na observação se decompuseram em condições naturais ao ar livre nas instalações do Southeast Texas Applied Forensic Science, nos Estados Unidos. Embriette Hyde, cientista do Baylor College of Medicine em Houston, e seus colegas foram os responsáveis por catalogar as bactérias que cresciam dentro dos exemplares antes e no final do estágio de inchaço. Para isso, eles coletaram amostras da boca e do reto no início do projeto, no final também foram coletados organismos nos intestinos, cólon e dentro da cavidade corporal, que não puderam ser acessadas antes para que o ambiente do crescimento bacteriano não se alterasse.

Após o primeiro passo de coleta, a equipe identificou as bactérias das amostras e procurou por marcadores genéticos que a caracterizassem, revelando que as anaeróbicas – que preferem ambientes livres de oxigênio – eram dominantes no corpo. Durante o resto da investigação outros tipos também foram surgindo ao longo da extensão do cadáver. Os micróbios vistos nos dois corpos se diferenciam bastante, por isso há uma dificuldade em montar um padrão com apenas duas análises. No estudo, os especialistas descreveram os resultados como “melhor não vistos em comparação, mas como um começo para um conjunto de dados muito maior”.

Jennifer Pechal, cientista forense da Universidade de Dayton em Ohio, que está conduzindo seu próprio estudo no meio, ressaltou que essa parcela da ciência e suas pesquisas ainda estão “em sua infância”, ainda são pouco descobertas e a quantidade escassa de espécimes doados dificultam a investigação.

Nos últimos anos, a pesquisa de microbiomas – a classe de bactérias localizadas em corpos vivos – se tornou mais abrangente e promissora com a técnica de sequenciamento genético rápido e barato que permite uma visualização melhor dos organismos. As revelações já servem como base para um banco de dados novo sobre a ecologia da morte, mas não representam grandes resultados conclusivos ainda e necessitam de mais amostras e observações.