14/09/2025 - 16:01
País vê crescer onda de publicações virais em que influenciadores lutam com crocodilos ou manuseiam outros animais para as câmeras. Organizações temem “turismo imitativo”.Uma investigação aberta por autoridades australianas nesta semana contra o influenciador americano Mike Holston por vídeos divulgados em suas redes em que ele luta com um crocodilo se tornou o episódio mais recente de um problema que cresce no país.
Publicações virais em que influenciadores provocam animais perigosos ou os manuseiam incorretamente tomam conta das redes sociais e atingem milhões de visualizações.
A preocupação de organizações de direitos dos animais é que os vídeos incentivem o “turismo imitativo”, atraindo pessoas interessadas a interagir com a vida selvagem de forma perigosa.
O vídeo publicado por Mike Holston, chamado nas redes de “Real Tarzann”, tem mais de 5 milhões de visualizações apenas no Instagram. Na gravação, feita no estado australiano de Queensland, ele entra na água e luta com um crocodilo, imobilizando-o com um golpe no pescoço, enquanto sangue escorre pelo seu braço.
O governo de Queensland disse que está “investigando ativamente” os vídeos, enquanto seu departamento de meio ambiente chamou as ações de “extremamente perigosas e ilegais”.
A ONG People for the Ethical Treatment of Animals (Peta) pediu que Holston fosse deportado da Austrália e proibido de retornar ao país.
“O influenciador americano que visita a Austrália regularmente usa animais como adereços para conteúdo, incluindo provocá-los e envolvê-los em ações imprudentes e perigosas”, disse a filial australiana da Peta em uma publicação nas redes sociais.
“Crueldade por conteúdo”
Em julho, outro influenciador, o canadense Colton Macaulay, que tem 600 mil seguidores no Instagram, publicou um vídeo de si mesmo capturando um crocodilo jovem de água doce no norte da Austrália. Na gravação, o animal aparece claramente estressado.
“Isso é crueldade para criar conteúdo”, disse Ben Pearson, diretor nacional do grupo de direitos dos animais World Animal Protection Australia, em resposta à postagem de Macaulay. “Crocodilos não são brinquedos, não estão aqui para nos divertir ou serem usados em uma manobra de mídia social. Esse é exatamente o tipo de comportamento irresponsável que coloca a vida selvagem e as pessoas em risco.”
A World Animal Protection tem pedido que as redes sociais regulem conteúdos que exploram animais, afirmando que as plataformas devem “remover consistentemente conteúdos prejudiciais e responsabilizar os criadores”.
“Os animais continuarão pagando o preço pela popularidade online sem uma maior responsabilização”, disse o grupo em uma publicação. “Influenciadores que promovem encontros com a vida selvagem de forma antiética e ilegal estão alimentando uma indústria exploratória que prospera no sofrimento.”
Joey Clarke, comunicador científico sênior da Australian Wildlife Conservancy, que administra santuários de vida selvagem, também expressou preocupação com influenciadores assediando a fauna australiana.
“Temos o privilégio de ter mais espécies de répteis do que qualquer outro país, incluindo centenas de lagartos e cobras, além de tartarugas e crocodilos”, disse ele à DW. “É realmente decepcionante que influenciadores que visitam a Austrália interajam com animais selvagens apenas para aumentar seu próprio número de seguidores online.”
Premiê fala em incidente “ultrajante”
Outra influenciadora americana, Sam Jones gerou indignação em março depois de postar um vídeo em que tira um filhote de wombat, um marsupial nativo da Austrália, da mãe e o mostra para a câmera enquanto o animal grita.
“Esta não é uma situação em que você deve pegar um animal, se gabar e mostrar para a câmera”, disse o biólogo americano de vida selvagem, Forrest Galante, em seu canal no YouTube. “Você está criando estresse para o bebê, estresse para a mãe.”
“Tirar um filhote de wombat de sua mãe e causar estresse é simplesmente ultrajante”, afirmou na ocasião o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, sobre o incidente.
As penalidades por crueldade contra animais na Austrália incluem multas de até cerca de 30 mil dólares australianos (R$ 106 mil) e prisão de um ano.
Vídeos virais incentivam ‘turismo imitativo’
A World Animal Protection se diz preocupada que esses vídeos virais terão um efeito cascata entre milhões de usuários de redes sociais que os assistem, levando ao “turismo imitativo”.
“Isso incentiva outros a verem animais selvagens como entretenimento e torna trivial o estresse e o dano causados por tais encontros”, afirmou o grupo de vida selvagem.
Joey Clarke, da Australian Wildlife Conservancy, também criticou pessoas que buscam lucrar com interações ilegais com a fauna do país.
“A incrível vida selvagem da Austrália merece estar em destaque internacional, mas não ser agarrada e assediada para vídeos nas redes sociais.”