A evolução da perícia e da habilidade em metalurgia desenvolvida por artesãos vikings dinamarqueses nos séculos 8 e 9 foi detalhada em um estudo da Universidade de Aarhus (Dinamarca). O trabalho foi publicado na revista “Archaeological and Anthropological Sciences”.

Os pesquisadores analisaram fragmentos de ferramentas, matérias-primas como barras de metal e objetos completos como chaves e broches, escavados em dois locais em Ribe. Essa cidade é um porto comercial estabelecido pelos vikings na Dinamarca no século 8.

Os autores examinaram 1.126 amostras de ferramentas de usinagem (cadinhos e moldes), 24 chaves e broches e 24 lingotes de barras de metal e fragmentos de metal sobressalente. Ao analisarem amostras da superfície de ferramentas e identificar vestígios metálicos nelas contidos, além de examinar a composição metálica de objetos acabados, os pesquisadores puderam inferir quais os metais utilizados na confecção desses objetos.

Artesãos inovadores

A drª Vana Orfanou, autora principal do estudo, disse: “A análise de ferramentas e objetos acabados nos permitiu compreender melhor as práticas de metalurgia empregadas em Ribe e como elas se desenvolveram ao longo do tempo. Documentamos uma série de rápidos avanços tecnológicos no início da era viking, conforme os artesãos foram expostos a novas habilidades. Nossas descobertas sugerem que os artesãos vikings em Ribe eram inovadores e industriosos. Eles avançaram da mistura de metais de forma um tanto aleatória para refinar seu processo e criar misturas de metais muito específicas, em um século”.

A composição metálica de objetos datados do século 8 sugere que os artesãos vikings da época combinavam metais em misturas, ou ligas, que continham dois ou mais metais. No entanto, essas ligas não eram produzidas pela combinação de materiais de maneira consistente. Já as ligas de objetos datadas do século 9 eram mais padronizadas e consistentes. Enquanto no século 8 o latão com chumbo era um componente comum, no século 9 o latão com alto teor de zinco era mais amplamente utilizado. Esse desenvolvimento sugere que as misturas de ligas mudaram com o tempo, possivelmente para melhorar a qualidade e a aparência.

Os autores também investigaram de que objetos de metal específicos eram feitos. Ao longo dos séculos 8 e 9, ligas com chumbo foram usadas para objetos práticos, como chaves. Os autores especulam que isso ocorreu porque ligas com chumbo são mais fáceis de fundir em moldes. O latão foi encontrado ao longo dos séculos 8 e 9 principalmente em broches decorativos. Uma interpretação possível é que o latão parecia mais ornamental devido à sua cor dourada brilhante.

Ferramentas aprimoradas

Barras de metal, conhecidas como lingotes, que eram fundidas para criar objetos também foram encontradas em Ribe. Embora seja difícil estabelecer se os lingotes foram feitos em Ribe, pois não possuem características distintivas e são semelhantes aos encontrados em outra cidade viking, Hedeby, os autores especulam que essas barras podem ter sido comercializadas entre assentamentos.

As análises dos autores também sugerem que, assim como o desenvolvimento de suas ligas ao longo do tempo, os artesãos de Ribe aprimoraram suas ferramentas. Cadinhos (copos de argila para derreter metais sobre o fogo) e a forma como eram feitos eram essenciais para a eficiência dos processos de usinagem. Os autores descobriram que, no século 9, os artesãos adotaram uma argila diferente, mais resistente ao calor para seus cadinhos, que duraria mais.

As mudanças e melhorias no artesanato em Ribe podem indicar que os artesãos aprenderam com as gerações anteriores, ou com viajantes contemporâneos que trouxeram com eles técnicas praticadas em outros assentamentos vikings, como Hedeby.

“A era viking é uma virada crítica na história, quando a comunicação por mar cresceu exponencialmente no norte da Europa”, afirmou Vana Orfanou. “A evolução do artesanato nos dá um conhecimento sem precedentes sobre as consequências culturais e sociais desse conhecido caso de ‘protoglobalização’”.