02/07/2020 - 16:36
Observar uma luz vermelha intensa por três minutos por dia pode melhorar significativamente a visão em declínio, revelou um novo estudo liderado pela University College London (UCL, do Reino Unido), o primeiro de seu tipo em seres humanos.
Os cientistas acreditam que a descoberta, publicada na revista “The Journals of Gerontology”, pode sinalizar o surgimento de novas terapias oculares domésticas acessíveis. Elas poderão ajudar milhões de pessoas em todo o mundo com uma visão em declínio por motivos naturais.
O professor Glen Jeffery, do Instituto de Oftalmologia da UCL, autor principal do estudo, disse: “À medida que você envelhece, seu sistema visual diminui significativamente, sobretudo após os 40 anos. Sua sensibilidade retiniana e sua visão de cores são gradualmente prejudicadas e, com o envelhecimento da população, essa é uma questão cada vez mais importante. Para tentar conter ou reverter esse declínio, procuramos dar um reinício às células envelhecidas da retina com pequenas rajadas de luz de ondas longas”.
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Em humanos com cerca de 40 anos, as células da retina do olho começam a envelhecer. O ritmo desse envelhecimento é causado, em parte, quando as mitocôndrias da célula, cujo papel é produzir energia (adenosina trifosfato, ou ATP) e aumentar a função celular, também começam a declinar.
Declínio significativo
A densidade mitocondrial é maior nas células fotorreceptoras da retina, que possuem alta demanda de energia. Como resultado, a retina envelhece mais rapidamente do que outros órgãos, com uma redução de 70% de ATP ao longo da vida. Isso causa um declínio significativo na função dos fotorreceptores, pois eles não possuem energia para desempenhar seu papel normal.
Os pesquisadores construíram suas descobertas anteriores em ratos, abelhas e moscas-das-frutas, que encontraram melhorias significativas na função dos fotorreceptores da retina quando seus olhos foram expostos a uma luz vermelha profunda de 670 nanômetros (comprimento de onda longo).
“As mitocôndrias têm características específicas de absorbância da luz que influenciam seu desempenho: comprimentos de onda maiores que variam de 650 a 1.000 nanômetros (nm) são absorvidos e melhoram o desempenho mitocondrial para aumentar a produção de energia”, disse Jeffery.
A população de fotorreceptores da retina é formada por cones, que mediam a visão de cores, e bastonetes, que fornecem visão periférica e adaptam a visão sob luz baixa/fraca.
Para o estudo, foram recrutadas 24 pessoas (12 homens e 12 mulheres), com idades entre 28 e 72 anos, sem doença ocular. Os olhos de todos os participantes foram testados quanto à sensibilidade de seus bastonetes e cones no início do estudo. A sensibilidade do bastonete foi medida em olhos escuros adaptados (com as pupilas dilatadas), solicitando-se aos participantes que detectassem sinais de luz fraca no escuro. Já a função do cone foi testada por indivíduos que identificaram letras coloridas que tinham muito baixo contraste e pareciam cada vez mais borradas, um processo chamado contraste de cores.
Resultados
Todos os participantes receberam uma pequena lanterna de LED para levar para casa e foram convidados a examinar o feixe de luz vermelho escuro de 670 nm por três minutos por dia durante duas semanas. Eles foram então retestados quanto à sua sensibilidade aos bastonetes e aos cones.
Os pesquisadores descobriram que a luz de 670 nm não teve impacto em indivíduos mais jovens. Naqueles com cerca de 40 anos ou mais, porém, foram obtidas melhorias significativas.
A sensibilidade ao contraste das cores do cone (a capacidade de detectar cores) melhorou em até 20% em algumas pessoas com cerca de 40 anos ou mais. As melhorias foram mais significativas na parte azul do espectro de cores, mais vulnerável no envelhecimento.
A sensibilidade do bastonete (a capacidade de ver com pouca luz) também melhorou significativamente em pessoas com cerca de 40 anos ou mais, embora menos que o contraste de cores.
Jeffery disse: “Nosso estudo mostra que é possível melhorar significativamente a visão que diminuiu em indivíduos idosos, usando exposições breves e simples a comprimentos de onda da luz que recarregam o sistema de energia que diminuiu nas células da retina, como a recarga de uma bateria. A tecnologia é simples e muito segura, usando uma luz vermelha profunda de um comprimento de onda específico, que é absorvido pelas mitocôndrias na retina que fornecem energia para a função celular”.
Ele acrescentou: “Nossos dispositivos custam cerca de 12 libras (por volta de US$ 15) para serem fabricados. Portanto, a tecnologia é altamente acessível a membros do público”.