Diocese de Augsburg questionou pagamento de indenização, mas voltou atrás após pressão da imprensa. Aos 62 anos, vítima ainda sente feridas físicas e psicológicas causadas pelo agressor.Um homem que foi vítima de abusos sexuais perpetrados por um padre da Igreja Católica alemã durante anos receberá em torno de 150 mil euros em compensações.

Inicialmente, a diocese de Augsburg havia se recusado a pagar a quantia. Nesta terça-feira (16/01), porém, os representantes da Igreja anunciaram que, após esclarecerem “todos os temas referentes aos procedimentos” junto a Comissão Independente para o Reconhecimento de Pagamentos (UKA na sigla em alemão), que determinou o pagamento da indenização, a decisão foi finalmente aceita.

Os bispos da Igreja Católica alemã nomearam a UKA para decidir sobre o pagamento de compensações às vítimas de abusos sexuais cometidos pelos clérigos. A diocese de Augsburg admitiu que as consequências psicossociais causadas à vítima apresentadas pela Comissão são bastante graves. “A diocese teve de reconhecer novas e adicionais circunstâncias nesse caso”, afirmou o escritório do bispo de Augsburg, Bertram Meier.

A vítima, Hans-Joachim Ihrberger, hoje com 62 anos, se disse satisfeito que o caso tenha chegado ao fim. Ele já teve dois ataques cardíacos e três derrames, e se locomove em uma cadeira de rodas. Em sua condição, é recomendado evitar situações estressantes, embora as últimas semanas tenham sido bastante agitadas para ele.

No início do ano, após a recusa da diocese em pagar a indenização, ele até pensou em desistir do caso. Para ele, o pior de tudo é foi a diocese agir como se ele tivesse interpretado mal a rejeição inicial ao pagamento.

Um porta voz do bispo Meier afirmou em dezembro que o processo ainda não havia sido concluído. No entanto, a emissora alemã WDR, que mantém uma equipe investigativa chamada Igreja e Abusos, tornou pública uma carta enviada a Ihrberger pela diocese afirmando que “após intensas consultas internas, mais recentemente com o bispo Bertram Meier, devemos anunciar que a diocese de Ausburg não pode concordar com esse reconhecimento”.

Diocese “sem demonstrar arrependimento”

Johannes Norpoth, porta-voz da Comissão, avaliou essa declaração como uma clara rejeição. Ele elogiou o fato de que o bispo cedeu – ainda que após pressão popular – e decidiu pagar a compensação. Além disso, é notório que os pagamentos seriam ainda mais altos se um tribunal estadual determinasse os valores das indenizações.

Mas, mesmo após o anuncio desta terça-feira, a diocese ainda continua a levantar alguns questionamentos. Em nota, a entidade afirmou que a forma dos pagamentos fixos do valor estipulado deverá ser discutida de maneira mais aprofundada na Conferência dos Bispos da Alemanha.

“Isso demonstra claramente que a diocese não tem interesse em expressar arrependimento real e verdadeiro, ao contrário, quer tentar ao máximo se livrar disso”, criticou Norpoth. Ele defende que os sistemas de pagamentos dos procedimentos fora dos tribunais devem ser preservados. “É a única maneira de reconhecimento para as muitas vítimas que mal conseguem falar a respeito disso.”

Ihrberger em seu relato contou que, na época em que era coroinha, ele foi “acariciado” em seus genitais pelo padre, e depois teve que fazer o mesmo nele. A isso se seguiram dois anos de violentos abusos sexuais, incluindo estupro. Ele ainda sente as feridas deixadas pelo padre todas as vezes em que vai ao banheiro.

rc (ots)