09/11/2025 - 15:35
Quem quer o conforto de viajar sozinho já não precisa ter um avião próprio. Procura por jatos privados cresce e impulsiona a expansão de um mercado altamente poluente – e péssimo para o clima.Já não são mais só os famosos, a realeza e os oligarcas que fogem das longas filas e dos saguões lotados de gente comum nos aeroportos. Hoje há cada vez mais opções para os que querem voar em jatos particulares, mas não têm uma aeronave própria.
Desde a queda nas viagens causada pela pandemia de covid-19, os fabricantes de aeronaves vêm se recuperando gradualmente, impulsionados por uma forte demanda.
Atualmente, há cerca de 23,5 mil jatos particulares em operação no mundo, segundo Denesz Thiyagarajan, da consultoria em aviação IBA Insight – destes, entre 60% e 70% estão nos EUA, mas há muita demanda agora do Oriente Médio e da região Ásia-Pacífico, especialmente da Índia.
Em 2020, foram entregues 644 jatos executivos; em 2024, esse número subiu para 764. Para 2025, Thiyagarajan e sua equipe preveem outras 820 entregas, alta de 7,3% em relação ao ano anterior. Há listas de espera para algumas das aeronaves mais procuradas.
A JetNet, outra empresa de análise de aviação, projeta a entrega de quase 9,7 mil novos jatos executivos em todo o mundo até 2034.
Quem costuma comprar jatos particulares?
Os compradores de jatos particulares geralmente são indivíduos de alto patrimônio, governos, corporações ou empresas de táxi aéreo como a NetJets ou FlexJets. O mercado ainda é dominado por aeronaves de um dono só, mas a chamada “propriedade fracionada” está crescendo, aponta Thiyagarajan.
É o que também afirma Daniel Riefer, da consultoria McKinsey em Munique. Segundo ele, do ponto de vista do modelo de negócios, os operadores de propriedade fracionada tiveram “a maior expansão nos últimos cinco anos”.
Além da propriedade fracionada, programas de assinatura ou de membros – que oferecem aos titulares acesso à frota completa de um operador por um número determinado de horas de voo – também estão se tornando mais populares. Essas empresas geralmente possuem e operam suas frotas diretamente.
Além disso, aeronaves de propriedade de indivíduos ou empresas são muitas vezes gerenciadas por prestadores de serviços, que também podem fretá-las para terceiros quando não estão em uso, explica Riefer, que no passado já atuou como piloto de linha aérea comercial.
Quem voa em jatos particulares?
Desde a pandemia, o perfil do usuário médio de jato particular mudou – e se expandiu.
Além dos ultrarricos, Thiyagarajan afirma que o mercado agora inclui “famílias, empreendedores e passageiros de primeira viagem em busca da segurança, flexibilidade, confiabilidade e luxo que as companhias aéreas comerciais não conseguiam garantir durante a crise”.
Segundo o especialista em aviação, essa mudança foi causada por uma grande transferência de riqueza, alta liquidez e mudanças nas prioridades após a pandemia, além do aumento das opções de fretamento e de programas de membros.
Não apenas mais jatos estão sendo vendidos, como também estão voando mais. As horas de voo em jatos particulares aumentaram cerca de 115% a 120% em relação aos níveis de 2019, de acordo com Riefer, embora isso varie de região para região e dependa de fatores como disponibilidade de voos comerciais e infraestrutura de transporte.
O que é um jato particular?
Jatos particulares, também chamados de jatos executivos ou corporativos, são classificados em sete categorias diferentes a depender do tamanho e alcance, explica Thiyagarajan.
O menor jato executivo é uma aeronave para quatro pessoas, operada por um único piloto e com curto alcance. Depois vêm os jatos de médio alcance, para seis a dez passageiros, seguidos dos de longo alcance, com até 19 passageiros. A maior categoria comporta de 20 a 50 ou mais passageiros.
No topo da escala estão os jatos para viagens de longa distância. A Boeing Business Jets anunciou recentemente um novo programa completo para transformar Boeings 747-8 comerciais em aviões executivos. A versão comercial desses Boeings transporta cerca de 600 passageiros. O 747-8 VIP atualizado será o maior jato particular do mundo e terá espaço para cerca de 75 passageiros, segundo a empresa.
Nem todos procuram o maior e o melhor. Mas há mais demanda por jatos maiores, “especialmente nas categorias supermédio e de longo alcance”, afirma Riefer, “enquanto os jatos médios e leves perderam participação na frota total na última década”.
Quanto custa ter um jatinho?
Para a Boeing e a Airbus, transformar seus aviões comerciais em jatos particulares personalizados é um negócio secundário. Outras empresas se especializam nisso, como as americanas Gulfstream, Honda Aircraft e Textron, a canadense Bombardier, a brasileira Embraer, a francesa Dassault e a suíça Pilatus.
O preço de tabela de um jato particular novo pode variar de alguns milhões de dólares até mais de 75 milhões de dólares (R$ 400 milhões) por um Gulfstream G700 ou 78 milhões de dólares (R$ 416 milhões) por um Bombardier Global 8000 – e isso antes de qualquer personalização. Já o preço do Boeing 747-8 VIP deve girar em torno de algumas centenas de milhões de dólares.
E isso são só os custos de compra. Operar um jato custa ainda mais. Despesas fixas e operacionais como combustível, manutenção, seguro, taxas de pouso, estacionamento, tripulação e catering podem somar mais alguns milhões por ano, dependendo do tamanho e do uso.
Tempo é o novo luxo
Jatos particulares produzem mais emissões por passageiro do que aviões comerciais, e é por isso que estão na mira de ativistas climáticos, que os consideram um excesso elitista que gera emissões desnecessárias.
Mas para a maioria dos passageiros frequentes de jatinhos, será preciso mais do que protestos para mantê-los longe das pistas.
Os fabricantes estão sendo afetados pela atual incerteza geopolítica e a guerra tarifária do presidente americano Donald Trump, com impactos na cadeia de suprimentos e na linha de produção. Isso gera atrasos, mas uma crise econômica mais ampla ainda parece distante.
Thiyagarajan espera ver um crescimento sustentado nos próximos anos, impulsionado pelo aumento da riqueza global, maior uso corporativo e maior acessibilidade por meio de programas de táxi aéreo e propriedade fracionada.
Riefer concorda: “O modelo de propriedade fracionada provavelmente ganhará mais participação, aumentando a utilização e tornando a aviação privada mais acessível e flexível.” Mas ele aponta para diferenças regionais: “Os Estados Unidos continuarão sendo o maior mercado em termos absolutos, enquanto o crescimento mais rápido está projetado para o Oriente Médio, Ásia-Pacífico e América Latina.”