Natureza violenta

Se janeiro e fevereiro foram sinônimos de temperaturas escaldantes para os brasileiros e de neve e frio intenso para os norte-americanos, os ingleses vão lembrar do período pelas tempestades violentas e por pancadas de chuva de encharcar os ossos. Janeiro foi o mês mais úmido da história no sul e no centro do Reino Unido. O Oceano Atlântico deu uma boa contribuição para o show da natureza desregulada, enviando para o sudoeste da Cornualha enormes ondas de até 20 metros de altura, como essa que atingiu a cidade de Sennen, em 5 de fevereiro.

 

Toque biônico

Pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (Suíça) e do Instituto de BioRobótica da Escola Superior Sant’Anna, em Pisa (Itália), desenvolveram uma mão artifi cial que permite ao usuário sentir os objetos que está tocando e perceber tamanho e densidade. O dinamarquês Dennis Sorensen, de 36 anos, que perdeu a mão e parte do braço esquerdo ao manusear um rojão defeituoso em 2004, testou e aprovou o artefato. Para usar o aparelho, ele passou por uma delicada cirurgia que implantou eletrodos nos nervos da parte superior do braço, e por meses de treinamento. A mão sintética que recupera a sensação de textura e da forma dos objetos foi apresentada em fevereiro na revista Science Translational Medicine.

 

Bilhões de Terras

Um estudo publicado na revista PNAS propõe que a existência de planetas parecidos com o nosso, capazes de abrigar vida como a terrestre, é bem mais comum do que se pensava. Apoiados em dados coletados pelo observatório espacial Kepler, da Nasa, cientistas da Universidade da Califórnia em Berkeley, liderados por Erik Petigura, calcularam que 22% das estrelas da Via Láctea semelhantes ao Sol têm planetas rochosos a orbitá-las que recebem uma quantidade de energia luminosa semelhante à recebida pela Terra. Como há cerca de 100 bilhões de estrelas na nossa galáxia, das quais 10% se assemelham ao Sol, os astrônomos, cautelosamente, estimam que pode haver 2 bilhões de “Terras”. A mais próxima estaria a 12 anos-luz de distância.

 

Células-tronco fáceis

Um método simples, rápido e barato de gerar células pluripotentes (capazes de se desenvolver em vários tipos diferentes de células), descoberto por cientistas japoneses e americanos, pode revolucionar a pesquisa das células-tronco. A equipe japonesa conseguiu converter células comuns de camundongos em células pluripotentes simplesmente banhando-as numa solução um pouco ácida. Essas células, denominadas Stap (sigla em inglês para Aquisição de Pluripotência Desencadeada por Estímulo), podem virar células-tronco semelhantes às embrionárias. Ainda existem vários passos a ser dados – como saber se o que funciona em camundongos funcionaria em humanos –, mas o êxito da técnica, descrita em janeiro na revista Nature, viabilizaria a era da medicina personalizada.

 

Google investe em robôs

Células-tronco fáceis Um método simples, rápido e barato de gerar células pluripotentes (capazes de se desenvolver em vários tipos diferentes de células), descoberto por cientistas japoneses e americanos, pode revolucionar a pesquisa das células-tronco. A equipe japonesa conseguiu converter células comuns de camundongos em células pluripotentes simplesmente banhando-as numa solução um pouco ácida. Essas células, denominadas Stap (sigla em inglês para Aquisição de Pluripotência Desencadeada por Estímulo), podem virar células-tronco semelhantes às embrionárias. Ainda existem vários passos a ser dados – como saber se o que funciona em camundongos funcionaria em humanos –, mas o êxito da técnica, descrita em janeiro na

revista Nature, viabilizaria a era da medicina personalizada.

 

 

 

Praga de águas-vivas

Aliada ao aquecimento global, a sobrepesca favorece a proliferação das águas-vivas. Estudos mostram que, em 2006, enquanto a biomassa de peixes oceânicos somava 3,9 milhões de toneladas, a de águas-vivas rondou 13 milhões de toneladas. Para a bióloga Lisa-Ann Gershwin, a tendência pode induzir os mares a se parecer com os do fim do Pré-Cambriano, há 540 milhões de anos, “um mundo onde a água-viva dominava e não havia organismos com carapaça”. Para corrigir a ameaça, o Instituto de Ciência e Tecnologia da Coreia criou o robô Jeros, que combina GPS com câmeras para detectar, capturar e pulverizar águas-vivas antes de caírem em redes de pesca. O Jeros elimina 400 quilos em uma hora.

 

Boas e más escolhas

Uma bolinha de tecido nervoso do cérebro humano, parecida com uma grande couve-debruxelas, nos ajuda a identificar boas ou más escolhas, afirmam cientistas britânicos. Eles localizaram a área denominada “polo frontal lateral do córtex pré-frontal”, por meio de ressonância magnética em cérebros humanos saudáveis. Exames posteriores não encontraram essa área em macacos, o que indica que ela existe só mesmo no homem. Enquanto outras regiões cerebrais acompanham o bom ou mau andamento das decisões tomadas,  o polo frontal lateral ativa decisivamente a reflexão sobre as decisões, caracterizando uma forma de pensamento mais elevada. A pesquisa, divulgada em janeiro na revista Neuron, vai ajudar no estudo e tratamento das doenças psiquiátricas.

 

Ironia tabagista 

O ator Eric Lawson, o cowboy de olhar viril dos anúncios de cigarros Marlboro entre 1978 e 1981, morreu em 10 de janeiro por insuficiência respiratória, aos 72 anos, segundo o jornal Daily Mail. Lawson fumava desde os 14 anos e só largou o cigarro quando recebeu o diagnóstico de “doença pulmonar obstrutiva crônica”, nome que designa moléstias como bronquite crônica e enfisema. Integrante dos seriados As Panteras e Baywatch, Lawson chegou a fazer campanhas antitabagismo parodiando a Marlboro. A empresa já viu outros dois atores de seus comerciais morrerem de doenças ligadas ao cigarro: David Millar teve enfisema pulmonar em 1987 e David McLean foi vítima de câncer de pulmão, em 1995.

 

Crueldade zoológica

O zoológico de Copenhague, na Dinamarca, foi brutalmente “científico” em relação à girafa Marius, de 18 meses.  Alegando que o animal tinha características genéticas parecidas com as de  outros companheiros (o que, em caso de reprodução no ativeiro, provocaria procriação consanguínea) e que não poderia ser solto na natureza de volta à África, o diretor científico da instituição, Bengt Holst, decidiu-se pela eutanásia. Como se não bastasse, Marius foi morto com um tiro de pistola diante de  frequentadores do zoo, no dia 9 de fevereiro, e sua carne, servida aos outros animais presos. Holst ignorou os protestos que reuniram 28 mil assinaturas contra o abate e a oferta de um zoo britânico que se propôs a receber Marius. Para o burocrata, o importante é que, no futuro, haja “uma população de girafas saudável nos zoos europeus”.

 

Corais Ácidos

O aumento da acidez na água do mar ameaça a sobrevivência de recifes de coral, mas ao menos um deles não está sofrendo com isso. Pesquisadores da Woods Hole Oceanographic Institution, dos Estados Unidos, descobriram recentemente nas ilhas de Palau (oeste do Oceano Pacífico) um ecossistema de recife de coral saudável e próspero em águas ácidas, que, segundo estudos de laboratório, tem atrasado ou impedido o crescimento de outros corais. A diversidade e a expansão do recife são maiores do que em recifes próximos com índices de acidez menores. Os cientistas ainda não sabem o porquê, mas suspeitam da influência de fatores químicos e biológicos específicos do local. O estudo foi publicado em janeiro na revista Geophysical Research Letters.

 

Praia suja de espuma?

Em quantidades enormes, até organismos microscópicos ficam visíveis a partir do espaço. Em 19 de janeiro, o satélite Aqua, da Nasa, flagrou uma imensa mancha escura no litoral do Brasil, desde Santa Catarina até o Rio de Janeiro (onde toca a costa), com até 800 km de largura. Trata-se de uma proliferação de Myrionecta rubra, alga de cor vermelha que se alimenta de outras algas, turbinada pelo esquentamento da temperatura da água do mar, no alto verão. Flutuando a um ou dois metros sob a superfície, o microrganismo aparece como uma nuvem escura na imagem. A Myrionecta rubra não é tóxica para seres marinhos ou humanos, mas causa má impressão para quem vê a água do mar avermelhada ou cheia de espuma, como os cariocas testemunharam nos últimos meses.

 

Humildade cósmica

Pela primeira vez desde que pousou em Marte, Você está aqui em 6 de agosto de 2012, o robô Curiosity, da Nasa, vrou suas câmeras para a Terra e nos fotografou – lá longe. A foto, batida em 31 de janeiro e postada em 6 de fevereiro na conta do Curiosity no Twitter, mostra um ponto minúsculo, insignificante, no céu marciano, às 7 horas da noite local. Estávamos, então, a 100 milhões de quilômetros do planeta vermelho, e a imagem não mente: mesmo a essa distância, pequena em termos cósmicos (em média, a Terra gira a 150 milhões de quilômetros do Sol), nossa aparência é irremediavelmente modesta.

 

Maceió, campeã da violência

O levantamento anual mundial sobre índices de homicídios dolosos feito pela ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, divulgado em janeiro, não foi nada bom para o Brasil. O país foi o primeiro na lista das 50 cidades com população superior a 300 mil habitantes mais violentas do mundo em 2013: teve 16 incluídas, 15 das quais capitais de Estado. A seguir vêm o México, com nove, e a Colômbia, com cinco. A cidade mais perigosa do Brasil é Maceió, com 795 mortes violentas a cada 996,7 mil habitantes. Ela ocupa o quinto lugar mundial, atrás de San Pedro Sula (Honduras), Caracas (Venezuela), Acapulco (México) e Cali (Colômbia). Além de Maceió, há oito cidades violentas no Nordeste brasileiro, região que sofre “um problema crônico de criminalidade”, segundo o advogado e pesquisador em segurança pública Fabrício Rebelo. Para Rebelo, o crime está associado sobretudo à expansão do tráfico de drogas e à adoção de uma estratégia errada no combate à violência. Confira as cidades brasileiras mais mal listadas.

 

Memórias editadas

Nossas memórias estão longe de ser precisas. De acordo com os cientistas da Northwestern University (EUA), elas são uma forma precária de lembrar eventos que “remontam” ao passado usando informações recentes e de atualizar recordações com novas experiências. No cérebro, é o hipocampo que “edita” esse material, num trabalho que os pesquisadores comparam ao de um montador de filme ou ao de um diretor de efeitos especiais. O hipocampo ajuda o homem a sobreviver e a adaptar-se a ambientes em constante mutação, estimulando-o a concentrar-se em elementos importantes no presente. Isso, por outro lado, reduz a confiabilidade de testemunhos oculares em casos judiciais. O estudo foi publicado em fevereiro no Journal of Neuroscience.

 

Poluição made in China

Um estudo de cientistas chineses e americanos divulgado  em janeiro pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos revelou que a poluição atmosférica também é item de exportação da China. O smog chinês (nevoeiro combinado com fumaça poluente) cruza o Oceano Pacífico e chega à costa ocidental dos Estados Unidos. O sulfato emitido por fábricas chinesas, indutor da chuva ácida, pode responder por até 25% da poluição causada por essa substância no oeste dos EUA. Cidades como Los Angeles, na Califórnia, ganham um dia extra de smog por conta do monóxido de carbono e do óxido de nitrogênio emitidos pelas fábricas chinesas. Um levantamento mostra que, em 2006, entre 17% e 36% das substâncias poluentes do ar emitidas pela China estavam ligadas a mercadorias exportadas, e 20% desse total correspondia ao comércio EUA-China.

 

Arca redonda

O Gênesis bíblico conta que a arca feita por Noé para enfrentar o dilúvio tinha 137 metros de comprimento, 23 de largura e 13 de altura. Uma tábua de argila mesopotâmica de 4 mil anos, recentemente exibida no Museu Britânico, mostra especificações bem diferentes: o barco, de forma circular, seria feito com cordas trançadas, reforçado com vigas de madeira e impermeabilizado com betume. A embarcação lembraria um coracle, um barco-táxi da antiguidade na região hoje do Iraque. Para Irving Finkel, curador do museu e autor do livro A Arca Antes de Noé, a história deve ter sido repassada aos judeus durante o exílio na Babilônia, no século 6 a.C., virando a base do relato bíblico. Já fundamentalistas cristãos refutam a ideia e alegam que um barco redondo afundaria.

 

Cheiro de sovaco

Cientistas do Instituto Karolinska, da Suécia, descobriram que o ser humano pode sentir o cheiro da doença nos outros porque o sistema imunológico destes fica mais ativado. No teste, liderado por Mats Olsson, publicado na revista Psychological Science, aplicou-se em oito participantes saudáveis uma injeção de lipopolissacarídeo (toxina feita a partir de uma bactéria que deflagra uma resposta imunológica) ou uma solução salina. Depois, solicitou-se a 40 outros participantes que cheirassem o suor das camisetas usadas pelos oito testados. O grupo que recebeu o LPS produziu um odor bem mais intenso, desagradável e “doentio” do que os que receberam a solução salina. Para Olsson, a habilidade para detectar cheiros expressa uma adaptação evolutiva que permite aos seres humanos evitar doenças potencialmente perigosas.