07/12/2017 - 12:02
Natureza (cada vez mais) inclemente
Mais intenso furacão registrado no Atlântico em dez anos, o Irma espalhou destruição no início de setembro em Barbuda, Saint Barthélemy, Saint Martin, Anguilla e Ilhas Virgens britânicas, por onde passou com a categoria 5 (a máxima da escala Saffir-Simpson) e ventos de quase 300 km/h – marca que só quatro ciclones haviam atingido nesse oceano. Depois de, enfraquecido, arrasar áreas de Porto Rico, República Dominicana, Haiti e Cuba, o Irma chegou ao arquipélago de Florida Keys em 10 de setembro, com categoria 4, e a seguir entrou na península da Flórida pela costa oeste, começando enfim a perder força. Mesmo situada na costa leste, Miami, principal cidade da região, registrou inundações e falta de energia. Até 18 de setembro, o Irma estava associado a pelo menos 84 mortes (das quais 45 nas ilhas e 39 nos EUA) e a perdas ainda não calculadas. A virulência desse ciclone – cuja trilha na superfície do oceano mostrava temperaturas acima de 30oC, favoráveis a furacões de categoria 5 – é, assim como a de seu antecessor Harvey (veja matéria à pág. 28), outro triste exemplo do perfil de eventos extremos em tempos de mudança climática.
Salvos pelo tufão
A erupção do Monte Pinatubo (Filipinas) em 1991, que matou cerca de 800 pessoas e deixou 10 mil desabrigados, lançou tanta poeira na atmosfera que as temperaturas globais caíram cerca de 0,5°C por alguns anos. Mas segundo um artigo publicado por cientistas americanos em setembro na revista Geophysical Research Letters, as consequências poderiam ter sido bem mais graves caso o tufão Yunya não estivesse por lá também. Além de magma e cinzas, o Pinatubo expeliu muito cloreto de hidrogênio, que, uma vez na estratosfera, teria iniciado reações químicas com o cloro (presente nos clorofluorocarbonos, ou CFCs) e diluiria muito a camada de ozônio. Mas o Yunya “lavou” a maior parte do cloreto de hidrogênio antes disso. Foi uma sorte que talvez não tenhamos no futuro, dizem os cientistas.
anos é o tempo estimado para o tamanduá-bandeira desaparecer do Cerrado do interior de São Paulo, segundo um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) divulgado em setembro. A população do animal já teria caído mais de 30% na região considerada, por fatores como caça, atropelamentos, queimadas, agrotóxicos na lavoura e conflitos com cães.
Movimento a cada meia hora
Quem trabalha em escritório ou leva uma vida sedentária deve ter cuidado redobrado com o tempo que passa sentado, alerta um estudo americano publicado em setembro na revista Annals of Internal Medicine. Segundo os pesquisadores, o que importa, no caso, é o tempo total passado em inatividade, e se ele for grande, o risco de morte aumenta, faça-se atividade física fora desse período ou não. A recomendação é levantar-se e movimentar-se pelo menos a cada 30 minutos, afirma Keith Diaz, da Universidade de Columbia (EUA), autor do estudo. “Mesmo se você se exercita, deve procurar tirar pausas e se movimentar ao longo do dia, porque o exercício não basta para superar os riscos de sentar-se durante longos períodos”, diz ele.
O olho grande da mineração
A polêmica sobre o decreto assinado em agosto pelo presidente Michel Temer que extinguiu a Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), uma área situada entre Pará e Amapá com o tamanho do Espírito Santo, trouxe à tona os interesses de mineradoras em terras hoje vetadas a essa atividade. Se o governo federal continuar a se mostrar tão receptivo às pretensões dessas empresas, populações locais, ambientalistas e cientistas têm boas razões para temer o futuro. Um estudo da Universidade Federal de Goiás, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade cruzou as liberações previstas em projetos de mineração em terras protegidas com os pedidos de empresas para autorização de lavra onde a atividade é proibida, e a área somada é cerca de 6 mil km2 maior que a da Renca. Confira alguns dados citados no trabalho, publicado na revista Environmental Conservation.
Turismo de volta a Alcatrazes
Fechado para visitas desde o início dos anos 1980, o Arquipélago dos Alcatrazes, no litoral paulista, será reaberto ao turismo a partir de 2018, segundo portaria publicada em setembro. Situado a 35 km de São Sebastião, o arquipélago era usado até recentemente pela Marinha para atividades bélicas. O isolamento das ilhas favoreceu a presença de várias espécies inexistentes em outros lugares, como as ameaçadas jararaca-de-alcatrazes e perereca-de-alcatrazes. Na ilha principal está o maior ninhal de fragatas do país, com cerca de 6 mil aves. As costas das ilhas também são especiais: ali existe a maior biodiversidade de peixes do país. Segundo a portaria, apenas atividades de contemplação e mergulho serão autorizadas. O desembarque, por ora, fica proibido.
Aplicativo de meditação
Ferramenta por excelência da comunicação instantânea, o smartphone também pode se adequar a recursos que rompem com essa sensação de imediatismo e nos recolocam na posição de donos dos próprios pensamentos. Foi nesse sentido que a ONG internacional Brahma Kumaris trabalhou para lançar no Brasil, em setembro, um aplicativo dedicado a exercitar a mente e aumentar o poder da positividade diante de situações e circunstâncias imprevisíveis do dia a dia. O MeditaBK contém 12 áudios com narração e música instrumental e diversas mensagens de texto sobre valores baseadas na raja ioga, além da agenda de cursos e palestras sobre meditação e qualidade de vida promovidos pela Brahma Kumaris-BK em todo o país. O download pode ser feito pelo link www.brahmakumaris.org.br/meditabk
da sua capacidade total era registrada em setembro pelo lago da hidrelétrica de Serra da Mesa (GO), o maior reservatório de água da América Latina, com área de 1.784 km2. A região enfrenta escassez hídrica desde 2012. O nível atual da água no lago está 35 metros abaixo da cota máxima. A seca afeta duramente a economia local, reduzindo a pesca e o turismo.
Música e criatividade
Segundo uma pesquisa publicada em setembro na revista PLOS One, músicas alegres ajudam a pensar de forma mais flexível e a romper uma rotina criativa. Os psicólogos Simone Ritter, da Universidade Radboud (Holanda), e Sam Ferguson, da Universidade de Tecnologia de Sydney (Austrália), colocaram 155 pessoas por volta dos 20 anos de idade para resolver quebra-cabeças em silêncio ou ouvindo músicas clássicas classificadas como calma (“O Carnaval dos Animais”, de Saint-Saëns), alegre (“As Quatro Estações”, de Vivaldi), ansiosa (o movimento ‘Marte’ de “Os Planetas”, de Holst) ou triste (“Adágio para Cordas”, de Barber). O estudo mostrou que, em relação ao tipo de pensamento necessário para apresentar ideias originais, o desempenho das pessoas subiu de uma média de 76 para 94 com a música de Vivaldi. Para Simone e Ferguson, “a audição de música pode ser facilmente integrada na vida cotidiana” e estimular o pensamento imaginativo em “configurações científicas, educacionais e organizacionais quando o pensamento criativo é necessário”.
Motivação para a luta
O que faz membros de grupos como o Estado Islâmico morrerem por uma causa? Um estudo feito a partir de entrevistas realizadas no Iraque pela Universidade de Oxford e pelo instituto de pesquisa Artis International, divulgado em setembro na revista Nature Human Behaviour, identifica três fatores cruciais para isso: a força de comprometimento com um grupo e com valores sagrados, a disposição de escolher esses valores em vez de relações de família ou parentesco e a força perceptível das convicções dos combatentes – a “força espiritual” – superando as dos inimigos. A conclusão reforça estudos anteriores de que a vontade de lutar reside não na ação racional, mas na ideia do “ator devotado” – pessoas que se veem solidamente ligadas a um grupo, lutando por valores tidos como “sagrados” ou não negociáveis.
Saúde a custo menor
Um estudo internacional divulgado em agosto na revista Lancet representa um alívio em termos alimentares para as pessoas de renda mais baixa. Segundo a Organização Mundial da Saúde, é preciso ingerir diariamente pelo menos 400 gramas de frutas, hortaliças e legumes (como feijão e ervilha), embora trabalhos mais recentes indiquem que o recomendável para reduzir o risco de acidente vascular cerebral, doença cardíaca e morte prematura seria de 800 gramas. Já o novo estudo, baseado em dados de mais de 135 mil participantes em todo o mundo, revelou que bastariam 375 gramas diárias desses alimentos. “Esses 25 gramas [a menos] representam cerca de 2% da renda total familiar em países de baixa renda”, diz Victoria Miller, da Universidade McMaster (Canadá), principal autora da pesquisa.
Antares como nunca se viu
A estrela supergigante vermelha Antares, situada no centro da constelação de Escorpião, a 550 anos-luz da Terra, foi fotografada com um grau de precisão inédito pelo Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês), no Chile. As imagens, divulgadas em agosto na revista Nature, são as mais detalhadas da superfície e da atmosfera de uma estrela já conseguidas, além das do nosso Sol. Antares é tão grande que, se estivesse no centro do Sistema Solar, suas camadas externas chegariam a Marte. A estrela está perdendo matéria para o espaço que a circunda, já na fase da vida que precede sua transformação em supernova. As fotos ajudam os astrônomos a entender melhor esse processo, com a participação do Very Large Telescope Interferometer (VLTI), aparelho que mapeia os movimentos de matéria na superfície da estrela.
dos bebês nascidos entre janeiro e maio de 2017 na China têm ao menos um irmão, segundo estatísticas oficiais citadas pelo jornal Global Times. O índice reflete a abolição, em 2016, da política do filho único no país, adotada há quase 40 anos como combate à superpopulação. Em 2016 nasceram 18,46 milhões de chineses, 11,5% a mais do que em 2015.
Biodiversidade inesgotável
Entre 2014 e 2015, foram descobertas 381 novas espécies de seres vivos na Amazônia, informa um relatório do WWF-Brasil e do Instituto Mamirauá (unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) divulgado em 30 de agosto. São 216 espécies de plantas, 93 de peixes, 32 de anfíbios, 19 de répteis, 18 mamíferos, dois mamíferos fósseis e uma ave. Os números indicam que, no período coberto, praticamente uma espécie de ser vivo foi descoberta na Amazônia a cada dois dias. Nas duas edições anteriores desse relatório, realizadas de 1999 a 2009 e de 2010 a 2013, a taxa média de dias para descoberta era maior: 3 dias (1.200 novas espécies) e 2,5 dias (602 novas espécies), respectivamente. “Imaginar que ainda hoje, em 2017, estamos verificando a existência de novas espécies mesmo com escassos recursos diz que ainda temos muito a conhecer e descobrir nessa região”, afirma Ricardo Mello, coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil. Somados, os três relatórios registram a descoberta de mais de 2 mil espécies em 17 anos. Conheça abaixo algumas das novidades mais recentes:
Relíquias de guerra
Vez por outra, uma bomba da Segunda Guerra ainda é descoberta em países da Europa que foram palco do conflito. No início de setembro, uma delas, com 1,4 tonelada de peso, foi encontrada numa área em construção da Universidade Goethe, na região central de Frankfurt (Alemanha). A bomba é mostrada na foto com Rene Bennert (à esquerda) e Dieter Schwetzler, da Divisão de Remoção de Armas Explosivas, depois de ter sido desativada, no dia 3 de setembro. Cada descoberta dessas é um incômodo e tanto para os moradores da região onde a peça é encontrada. No caso de Frankfurt, mais de 60 mil pessoas tiveram de ser evacuadas da área para que a bomba pudesse ser neutralizada.
Restaurantes de abutres
A população de abutres do Camboja caiu 50% desde o fim dos anos 2000, e o número divulgado no censo deste ano – 121 – representa o menor já registrado desde 2003. Segundo estudos recentes, a principal ameaça a essas aves de rapina no país do Sudeste da Ásia é o envenenamento, e uma forma segura (e curiosa) de alimentá-los pode ser vista no Santuário de Vida Animal Siem Pang Kang Lech, na província de Stung Treng: um “restaurante” no qual carcaças de animais providenciadas por ambientalistas são disputadas pelos abutres, enquanto observadores acompanham o banquete.
Homenagem ao Tai Chi
Cerca de 10 mil praticantes de tai chi chuan – milenar arte marcial chinesa conhecida pelos benefícios que traz à saúde física e mental – exercitam-se no Centro de Intercâmbio Internacional de Cultura Tai Chi nesta foto tirada no dia 1º de setembro na cidade de Jiaozuo, província de Henan (China central). Nessa época, mais de 50 mil pessoas participaram de atividades relacionadas à prática em 200 diferentes locais de Jiaozuo, conhecida como a Cidade Natal do Tai Chi. Essa arte marcial chegou ao Ocidente na primeira metade do século passado e hoje está presente em vários países, incluindo o Brasil.
dos 200 assassinatos de líderes e ativistas defensores dos direitos ligados à terra e à proteção da natureza registrados no mundo em 2016 ocorreram no Brasil, segundo relatório da organização Global Witness. Esse número faz do nosso país, pelo quinto ano consecutivo, o mais violento para se lutar pelo ambiente e pelo clima.