Durante o governo de Joe Biden, Congresso aprovou banimento de plataforma chinesa caso ela não seja vendida a compradores americanos. Prazo para cumprir decisão termina em 19 de janeiro.O TikTok está sob pressão nos Estados Unidos, e pode ser banido em breve do país. Se quiser evitar esse destino, a controladora chinesa ByteDance tem até 19 de janeiro para vendê-la para mãos americanas.

A determinação partiu do Congresso americano, em decisão tomada em abril de 2024. Os congressistas argumentam que a ByteDance está sujeita à influência do governo chinês e poderia compartilhar dados sensíveis de cidadãos americanos com Pequim.

A ByteDance, por sua vez, alega que a decisão fere a liberdade de expressão e apelou à Suprema Corte americana, que deve se pronunciar sobre o caso em 10 de janeiro.

Sob controle de Pequim?

Em seu site, a ByteDance nega qualquer influência direta de Pequim sobre sua subsidiária americana. Embora o governo chinês detenha 1% da Douyin Information Service Co., a afiliada chinesa da ByteDance, a empresa alega que isso é normal conforme a legislação chinesa e “não afeta as operações globais da ByteDance fora da China, incluindo o TikTok”.

Procurada, a ByteDance não respondeu às perguntas feitas pela DW.

Contrariando o discurso oficial da empresa, reportagens do Financial Times publicadas em meados de 2024 sugerem que os vínculos do governo chinês com a subsidiária americana do TikTok parecem ter aumentado.

“Existe essa fachada de que as empresas são separadas. Na realidade, são uma só”, afirmou um funcionário citado pelo jornal.

A ByteDance foi fundada em 2012 em Pequim pelos então jovens estudantes de TI Zhang Yiming e Liang Rubo. O negócio cresceu rápido, e Zhang Yiming chegou a ser o homem mais rico da China – até deixar inesperadamente a liderança da empresa, em 2021, e ser substituído pelo singapurense Shou Chew.

Durante uma audiência no Congresso dos EUA em março de 2023, Chew evitou responder perguntas sobre as origens da ByteDance, limitando-se a afirmar que a empresa foi fundada na China, mas agora se vê como uma organização global.

Para o consultor digital John Strand, não há dúvidas: “O TikTok é uma plataforma chinesa e, basicamente, todos os dados gerados em qualquer software ou hardware chinês estão disponíveis a qualquer momento e por qualquer motivo para o governo chinês, conforme a legislação do país.”

Suspeitas de manipulação

O TikTok tornou-se um influente meio de comunicação política em todo o mundo, especialmente entre os eleitores mais jovens.

A plataforma teria influenciado significativamente as eleições presidenciais na Romênia, que acabaram anuladas por suspeita de manipulação russa em favor do candidato de ultradireita Calin Georgescu. O caso está sob investigação da União Europeia.

Na Albânia, país candidato à adesão à UE, o TikTok foi proibido no final de 2024 pelo prazo de um ano – não por suspeita de manipulação política, mas por razões de proteção juvenil, após jovens usarem a plataforma para organizar um confronto com facas.

Mas os Estados Unidos não são os primeiros a tentar banir a plataforma sob o argumento de preocupações com a segurança nacional. A Índia fez o mesmo em 2020, e já há algum tempo o TikTok já está banido de dispositivos de trabalho de funcionários da UE e de políticos na Alemanha. Medidas semelhantes foram implementadas em diversos outros países.

Para Strand, o futuro da plataforma na UE certamente dependerá da decisão de Trump sobre o TikTok.

Qual é a importância do mercado americano para o TikTok?

O TikTok é extremamente popular nos EUA, onde contabiliza 170 milhões de usuários e é usado por um em cada dois americanos – inclusive como fonte de notícias. Por isso, o banimento da plataforma poderia significar um prejuízo e tanto para a ByteDance.

Segundo Strand, embora o mercado americano represente apenas 15% da receita total da ByteDance, perdê-lo abalaria a imagem da empresa. Também impactaria investidores americanos, já que 60% de suas ações estão nas mãos de fundos de investimento, muitos deles americanos e japoneses. Um desses investidores, Jeff Yass, é um grande patrocinador do Partido Republicano de Trump.

Trump já não parece mais tão disposto a brigar com o TikTok

Seja por influência de doadores ou por ter tido a própria campanha impulsionada pela plataforma junto ao eleitorado mais jovem, Trump parece ter mudado de ideia sobre o TikTok.

Durante sua primeira administração, ele foi um crítico contundente da plataforma e tentou bani-la. Mas recentemente ele pediu ao Supremo Tribunal que suspenda o banimento aprovado por lei do Congresso. O republicano sugere que seria capaz de garantir a segurança nacional americana e, ao mesmo tempo, preservar a operação do TikTok nos EUA.

O CEO do TikTok, Shou Chew, já teve reuniões com Trump no final de 2024, mas ainda não está claro como exatamente ele reverteria o banimento do aplicativo – que, vale lembrar, foi aprovado à época também com votos da base republicana no Congresso.

Strand aposta que Trump terá influência determinante sobre o futuro da plataforma nos Estados Unidos.

“Diferentemente do que tem sido noticiado, não acho que Trump tenha mudado de ideia sobre o TikTok. A guerra contra a plataforma começou durante o seu primeiro mandato. O que ele quer agora é o reconhecimento de que foi ele quem resolveu o impasse”, opina o consultor.