Banco confirmou que recebeu petição de ativistas, mas não comentou status da conta e alega “neutralidade”. Link no site do partido de ultradireita que direcionava os apoiadores para doações estava fora do ar.Ativistas da ONG Omas gegen Rechts (Vovós contra a extrema direita, em tradução livre) conseguiram tirar do ar, nesta quarta-feira (03/07), a conta usada pelo partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) para receber doações de apoiadores.

Segundo a imprensa alemã, a suspensão veio após o grupo enviar uma petição online assinada por 33 mil pessoas ao banco Berliner Volksbank.

O jornal alemão taz foi o primeiro a noticiar o fato, sendo seguido depois por outros veículos na quinta-feira. O banco confirmou que recebeu a petição e se encontrou com os ativistas, mas não comentou qual o status da conta devido às regras de sigilo bancário, e se recusou a negar o encerramento da conta.

Link não pode mais ser acessado

Apesar de a instituição financeira não confirmar a derrubada da conta, na quinta-feira, um link no site da AfD que direcionava os apoiadores para a conta de doações já não estava mais disponivel.

Doações por outros métodos continuavam a ser possíveis, no entanto.

“Já que entregamos a petição, supomos que já não existem relações comerciais entre a AfD e o Berliner Volksbank”, afirmou o Omas gegen Rechts nas redes sociais. No post, a organização também agradeceu ao banco berlinense e aos peticionários pela “vitória”.

Porém, segundo a agência alemã de notícias DPA, as transferências para o banco ainda eram possíveis durante um período de transição em que a conta continuaria acessível.

Omas gegen Rechts é uma plataforma da sociedade civil fundada no Facebook em novembro de 2017 por Monika Salzer. A organização, que milita contra o extremismo de direita, opera em toda a Alemanha e acumula dezenas de milhares de seguidores em suas contas de TikTok e Instagram.

Ascensão da AfD enfrenta oposição

No início do ano, o Berliner Volksbank alegou seguir o “princípio da neutralidade política” ao justificar ter a AfD entre seus clientes. A instituição diz se orientar por legislações que garantem a igualdade de tratamento para todos os clientes bancários.

Segundo um funcionário do banco, “isso também se aplica aos partidos políticos que são democraticamente legitimados em eleições liberais e representados nos parlamentos alemães”.

Pesquisas de opinião mostram que a AfD está atualmente em seu melhor momento, sendo especialmente popular nos estados do leste da Alemanha. Nas eleições para o Parlamento Europeu, no mês passado, o partido elegeu a segunda maior bancada, com 15,9% dos votos.

O receio de um ressurgimento da extrema direita tem levado milhares de pessoas a se manifestarem frequentemente contra o partido, e o Omas gegen Rechts faz parte desse movimento.

No início deste ano, o Tribunal Administrativo de Munique, no Sul da Alemanha, autorizou os serviços de inteligência da Baviera a monitorarem o diretório regional da AfD por suspeita de extremismo.

A classificação de um grupo como extremista é uma formalidade necessária no ordenamento jurídico alemão para dar às autoridades poderes para espionar seus integrantes – por exemplo, por meio de informantes infiltrados – a fim de reunir eventuais provas sobre atividades extremistas e, em último caso, banir uma organização política que seja considerada perigosa para o país.

Antes de aplicar essa classificação, o Departamento de Proteção da Constituição só pode manter uma organização sob observação pelas vias convencionais, a partir de fontes de informação públicas e de livre acesso, como perfis em redes sociais.

Procurada, a AfD não comentou o imbróglio com a conta bancária.

af/ra (dpa, DW)